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segunda-feira, 30 de novembro de 2009

JOÃO FERREIRA ROSA

FADO DOS SALTIMBANCOS (Isidoro de Oliveira/Fado corrido)



FADO DOS SALTIMBANCOS

Recordando meus senhores
Os tempos que já lá vão
Ainda há amadores
P’ra manter a tradição

Nada na vida os aterra
São alegres e são francos
E chamam-lhe os saltimbancos
Por andar de terra em terra
Não faltam a uma ferra
Em casa de lavradores
Nos retiros cantadores
Lá estão em dia de farra
Cantando ao som da guitarra
Recordando meus senhores

Na Arruda ou em Santarém
Na Chamusca ou no Cartaxo
O grupo não vai abaixo
Há-de ficar sempre bem
Depois de jantar tão bem
Agarram o seu pifão
Mas só com bom carrascão
Se deixam emborrachar
Em tudo fazem lembrar
Os tempos que já lá vão

Uns toureiam a cavalo
Outros a pé vão tourear
E nunca sai por pegar
Um toiro, posso afirmá-lo
Pois o grupo de quem falo
Marialvas cantadores
Toureiros e pegadores
Ao pisar os redondéis
Não levam nem cinco réis
Pois ainda há amadores

Este lindo festival
Que viram nossos avós
Não morre ainda entre nós
Não morre em Portugal
Porque temos o Vidal
E mais o Chico Leão
O Zé Núncio e o João
O Prestes e o Xavier
E a companhia que houver
P’ra manter a tradição

LUCÍLIA DO CARMO

MARIA MADALENA (Augusto Gil/Fernando Freitas)



MARIA MADALENA

Quem por amor se perdeu
Não chore, não tenha pena
Uma das santas do céu
Foi Maria Madalena

Desse amor que nos encanta
Até Cristo padeceu
Para poder tornar santa
Quem por amor se perdeu

Jesus só nos quis mostrar
Que o amor não se condena
Por isso, quem sabe amar
Não chore, não tenha pena

A Virgem Nossa Senhora
Quando o amor conheceu
Fez da maior pecadora
Uma das santas do céu

E de tanta que pecou
Da maior á mais pequena
Aquela que mais amou
Foi Maria Madalena

GONÇALO SALGUEIRO

DISSE-TE ADEUS E MORRI (Vasco de Lima Couto/José António Barbosa)



DISSES-TE ADEUS E MORRI

Disse-te adeus e morri
E o cais vazio de ti
Aceitou novas marés.
Gritos de búzios perdidos,
O voaram dos meus sentidos,
A gaivota que tu és.

Gaivota d`asas paradas
Que não sentes madrugadas
E acorda à noite a chorar.
Gaivota que não faz o ninho
Porque perdeu o caminho
Onde aprendeu a sonhar.

Preso no ventre do mar
O meu triste respirar
Sofre a invenção das horas.
Pois, na ausência que deixaste,
Meu amor, como ficaste?
Meu amor, como demora!

MARIA CLARA

MARIA SEVERA (José Galhardo/Raúl Ferrão)



MARIA SEVERA

Num beco da Mouraria
Onde a alegria, do sol não vem,
Morreu Maria Severa
Sabem quem era? ...talvez ninguém

Uma voz sentida e quente,
Que hoje á terra disse adeus,
Voz saudosa, voz ausente,
Mas que vive eternamente,
Dentro em nós e junto a Deus
Além nos céus

Bem longe onde o luar no azul tem mais luz
Eu vejo-a rezar aos pés duma cruz,
Guitarras trinai, viradas p'ro céu
Fadistas chorai, porque ela morreu.

Caiu a noite na viela
Quando o olhar dela deixou de olhar,
Partiu p'ra sempre vencida,
Tentando a vida, que a fez chorar.
Deixa um filho idolatrado,
Que outro afecto assim, não tem
Chama-se ele “o triste fado”,
Que vai ser desse enjeitado
Se perdeu o maior bem
O amor de mãe

Bem longe onde o luar no azul tem mais luz
Eu vejo-a rezar aos pés duma cruz,
Guitarras trinai, viradas p'ro céu
Fadistas chorai, porque ela morreu.

JORGE ROCHA

SINAS TROCADAS (João Alberto)



SINAS TROCADAS

Cigana dos meus sonhos
Cautela que é falsidade
Juraste pelos olhos teus
Que me disseste a verdade
Andas praí a dizer
As paixões que há por aí
Melhor deve saber
Quem as tem dentro de si

Cigana leste a minha sina,
Nela disseste o mal e o bem,
Duma mulher, a quem eu quero
Como a ninguém.

Nesta ansiedade, vivo a sofrer
Mas a verdade, vou por a nu
Sabes quem é, essa mulher
Cigana és tu

Andas na tua rotina,
Sempre a falar em paixão,
Noto por minha má sina,
Que tu não tens coração.

Se o tivesse com certeza
Sentias o que eu senti,
Minha alma triste andar presa,
Não á sina mas por ti,

Cigana leste a minha sina,
Nela disseste o mal e o bem,
Duma mulher, a quem eu quero
Como a ninguém.

Nesta ansiedade, vivo a sofrer
Mas a verdade, vou por a nu
Sabes quem é, essa mulher
Cigana és tu

domingo, 29 de novembro de 2009

ANA SOFIA VARELA

CINTA VERMELHA (anos 40/50)(J. Linhares Barbosa)



CINTA VERMELHA

Põe esta cinta vermelha
P`ra adelgaçar-te a cintura
Eu quero que todas vejam
Que tens bonita figura.

Hoje vai meter tourada
Comprei já duas barreiras
A coisa vai ser falada
Na boca das cantadeiras.

Eu quero que as companheiras
Conheçam esta aventura
No fado já se murmura
Que somos de igual quilate

Põe esta cinta escarlate
Para adelgaçar-te a cintura.

Levo travessas vermelhas
Porque o vermelho é picante
Ponho argolas nas orelhas
P`ra me tornar provocante.

Eu quero que o meu amante
Que é toda a minha loucura
Que é da alta e tem altura
Que as outras todas invejam

E eu quero que todos vejam
Que tens bonita figura.

ANABELA

RUA DO CAPELÃO ( Frederico de Freitas / Júlio Dantas )



RUA DO CAPELÃO

Ó Rua do Capelão
Juncada de rosmaninho
Ó Rua do Capelão
Juncada de rosmaninho
Se o meu amor vier cedinho
Eu beijo as pedras do chão
Que ele pisar no caminho
Se o meu amor vier cedinho
Eu beijo as pedras do chão
Que ele pisar no caminho

Tenho o destino ai marcado
Desde a hora em que te vi
Tenho o destino ai marcado
Desde a hora em que te vi
Ó meu cigano adorado
Viver abraçada ao fado
Morrer abraçada a ti
Ó meu cigano adorado
Viver abraçada ao fado
Morrer abraçada a ti

KATIA GUERREIRO

TUDO ISTO É FADO (Aníbal Nazaré e F. Carvalho)



TUDO ISTO É FADO

Perguntaste-me outro dia
Se eu sabia o que era o fado
Eu disse que não sabia
Tu ficaste admirado
Sem saber o que dizia
Eu menti naquela hora
E disse que não sabia
Mas vou te dizer agora

Almas vencidas
Noites perdidas
Sombras bizarras
Na mouraria
Canta um rufia
Choram guitarras
Amor, ciúme
Cinzas e lume
Dor e pecado
Tudo isto existe
Tudo isto é triste
Tudo isto é fado

Se queres ser o meu senhor
E teres-me sempre a teu lado
Não me fales só de amor
Fala-me também do fado
Que o fado é o meu castigo
Só nasceu pra me perder
O fado é tudo o que eu digo
Mais o que eu não sei dizer.

Almas vencidas
Noites perdidas
Sombras bizarras
Na mouraria
Canta um rufia
Choram guitarras
Amor, ciúme
Cinzas e lume
Dor e pecado
Tudo isto existe
Tudo isto é triste
Tudo isto é fado

Amor, ciúme
Cinzas e lume
Dor e pecado
Tudo isto existe
Tudo isto é triste
Tudo isto é fado

HELENA LEONOR

NÃO PASSES COM ELA À MINHA RUA (



NÃO PASSES COM ELA À MINHA RUA

Ao fim de tantos anos de ser tua
Amaste outra, casaste, foste ingrato
Vi-te passar com ela á minha rua
Abracei-me a chorar ao teu retrato

Podia insultar-te quando te vi
Ferida neste amor supremo e farto
Mas vinguei-me a chorar, chorei por ti
Por entre as persianas do meu quarto

Casaste, sê feliz, Deus te proteja
Não te desejo mal, e tanto assim
Que não tenho ciúme nem inveja
Como a tua mulher teve de mim

Mas olha meu amor, eu não me importa
Antes que fosses dela, eu já fui tua
Podes sempre bater á minha porta
Mas não passes com ela á minha rua

MARIA DA FÉ

LEIO EM TEUS OLHOS (Mário Moniz Pereira/Mário Moniz Pereira)



LEIO EM TEUS OLHOS

Leio em teus olhos
que o nosso amor
está cansado
leio em teu olhos
recordações do passado
Leio em teus olhos
que já não sou nesta hora
o que fui para ti outrora
leio em teus olhos

O amor de alguém
é inconstante
ao que ele vem
vai num instante
ve lá se o teu
não está já muito diferente
continua igual ao meu
como ele era antigamente

Leio em teus olhos
que o nosso amor
está cansado
leio em teu olhos
recordações do passado
Leio em teus olhos
que já não sou nesta hora
o que fui para ti outrora
leio em teus olhos

CRISTINA NAVARRO

SAUDADE SILÊNCIO E SOMBRA/ Nuno de Lorena / Pedro Rodrigues dos Santos



SAUDADE SILÊNCIO E SOMBRA

A saudade meu amor
É o martírio maior
Da minha vida em pedaços
Desde a tarde desse dia
Em que ao longe se perdia
P`ra sempre o som dos teus passos

Saudades fazem lembrar
Silêncios do teu olhar
Segredos da tua voz
E essa antiga melodia
Que o vento na ramaria
Murmurava só p`ra nós

Lembras-te daquela vez
Quando eu cantava a teus pés
Trovas que não tinham fim
Quando o luar prateava
E quando a noite orvalhava
As rosas desse jardim

Jardim distante e incerto
Sinto tão longe e tão perto
O passado que te ensombra
Devaneio e realidade
Silêncio sombras saudades
Saudades silêncio e sombra


NOTA: este fado É do reportório da nossa querida TERESA TAROUCA

RODRIGO

É TÃO BOM SER PEQUENINO (Linhares Barbosa /Fado corrido)



É TÃO BOM SER PEQUENINO

É tão bom ser pequenino,
Ter pai, ter mãe, ter avós
Ter esperança no destino,
E ter quem goste de nós


Vem cá José Manuel, dás-me a graciosa ideia
De Jesus da Galileia, a tranquinar no degelo
És moreninho de pele, como foi o Deus menino
Tens o mesmo olhar divino, ai que saudades eu tenho
Em não ser do teu tamanho, é tão bom ser pequenino


Os teus dedos delicados, nas tuas mãos inquietas
Lembram-me dez borboletas, a esvoaçar nos silvados
E como tu sem cuidados, também já corri veloz
Vem cá falemos a sós, dum caso sentimental
Que eu vou dizer-te o que vale, ter pai, ter mãe, ter avós

Ter avós afirmo-te eu, perdoa as imagens minhas
É ter relíquias velhinhas, e ter mãe é ter o céu
Ter pai assim como o teu, que te dá o pão e o ensino
É ter sempre o sol a pino, e o luar com rouxinóis
Triunfar como os heróis, e ter esperança no destino

Tu sabes o que é esperança, o sonho, a ilusão, a fé
Sabes lá o que isso é, minha inocente criança
Tu és fonte na pujança, e eu o rio que chegou à foz
Eu sou ante e tu a pós, que saudades, que saudades
A gente a fazer maldades, e ter quem goste de nós

JOÃO CASA NOVA

QUERO QUE SINTAS QUE TE QUERO(Carlos Alberto C. Gonçalves/ Popular)



QUERO QUE SINTAS QUE TE QUERO


Quero que tenhas p'ra comigo, mais cuidado
Vê lá se deixas de arranjar tantas intrigas
Se tu és livre e até nem tens namorado
P`ra quê diferente das outras mais raparigas?

Passas por mim com teu sorrisinho de troça
Sempre a troçar do meu sincero e puro amor
Até te esqueces, que quando rir já não possas
Sou eu que rio e rirei muito melhor.

Mas nesse dia, podes crer que sou sincero
Em te dizer que só a ti eu amarei
Era mentira se dissesse não te quero
Pois meu amor, sem teu amor não viverei

RICARDO SILVA

A VARINA (Ary dos Santos, Moniz Pereira/Manuel Iria, Tony Latino




De mão na anca descompôem a freguesa
Atrás da banca chamam-lhe gosma e burguesa;
Mas nessa voz com insulto á portuguesa
Há o sal de todos nós, há ternura e há beleza;
Do alto mar chega o pregão que se alastra
Têm ondas no andar quando embalam a canastra

Minha varina de chinelas por Lisboa
Em cada esquina é o mar que se apregoa
Nas escadinhas dás mais cor aos azulejos
Quando apregoas sardinhas que me sabem como beijos;
Os teus pregões são iguais á claridade
Caldeirada de canções que se entorna na cidade

Cordões ao peito numa luta que é honrada
A sogra a jeito na cabeça levantada;
De perna nua com tamanha altivez
Descobrindo a mar da rua, que esse sim, é português;
São as varinas dos poemas do Cesário
A vender a ferramenta de que o mar é o operário

Minha varina de chinelas por Lisboa
Em cada esquina é o mar que se apregoa
Nas escadinhas dás mais cor aos azulejos
Quando apregoas sardinhas que me sabem como beijos;
E os teus pregões nunca mais ganham idade
Versos frescos de Camões com salada de saudade

ADÉLIA PEDROSA

DÁ TEMPO AO TEMPO (Joaquim Pimentel e António Campos/Aquiles Bernardo, António Gomes e António Rogiero)



DÁ TEMPO AO TEMPO

Nunca pensei
Depois de tanta amizade
Ficasse tanta maldade
Escondida no teu peito
Nunca pensei
Mas teu dia há-de chegar
E por certo, hás-de pagar
Por todo o mal que tens feito

Dá tempo ao tempo
Ri enquanto tens vontade
Talvez um dia a saudade
Não te deixe rir assim
Dá tempo ao tempo
Que o tempo corre e não cansa
E eu não perdi a esperança
De te ver chorar por mim

Pouco me importa
O que dizes e o que pensas
Nem faço caso às ofensas
Que vives fazendo à toa
Tenho a certeza
Que esse teu riso atrevido
Há-de um dia ser vencido
Por que o tempo não perdoa

Dá tempo ao tempo
Ri enquanto tens vontade
Talvez um dia a saudade
Não te deixe rir assim
Dá tempo ao tempo
Que o tempo corre e não cansa
E eu não perdi a esperança
De te ver chorar por mim

Dá tempo ao tempo
Que o tempo corre e não cansa
E eu não perdi a esperança
De te ver chorar por mim

sábado, 28 de novembro de 2009

BEATRIZ DA CONCEIÇÃO

MEU CORPO
Letra: Ary dos Santos / Música: Fernando Tordo



MEU CORPO

Meu corpo é um barco sem ter porto
Tempestade no mar morto, sem ti
Teu corpo é apenas um deserto
Quando não me encontro perto, de ti.

Quem parte de tão perto nunca leva
As saudades da partida
Das amarras de quem sofre
Quem fica é que se lembra
É que se lembra, toda a vida
Das saudades de quem parte
E dos olhos de quem morre

Não sei, se o orgulho da tristeza
Nos dói mais do que a pobreza, não sei
Mas sei, que estou para sempre presa
À ternura sem defesa, que eu dei

Quem parte de tão perto nunca leva
As saudades da partida
Das amarras de quem sofre
Quem fica é que se lembra
É que se lembra, toda a vida
Das saudades de quem parte
E dos olhos de quem morre

Sozinha, sozinha numa cama que é só minha
Espero o teu corpo que eu tinha, só meu
Se ouvires o chorar de uma criança
Com o grito de vingança, sou eu
Sou eu de cabelo solto ao vento
Olhar em pensamento, no teu
Sou eu, na raiz do sofrimento
Contra ti e contra ao tempo, sou eu

Quem parte de tão perto nunca leva
As saudades da partida
Das amarras de quem sofre
Quem fica é que se lembra toda a vida
Das saudades de quem parte
E dos olhos, dos olhos de quem morre

Quem parte de tão perto nunca leva
As saudades da partida
Das amarras de quem sofre
Quem fica é que se lembra
É que se lembra, toda a vida
Das saudades de quem parte
E dos olhos de quem morre

CARLOS RAMOS

CAMPINO (Fernando Santos/Raul Ferrão)



CAMPINO

Mal canta o galo,
Ainda o sol não é nado,
Monto a cavalo
E vou p'ra junto do gado.
E os animais,
Essas tais feras bravias,
Com os seus olhos leais,
Parecem dar-me os bons dias.
Pampilho ao alto,
Corpo firme no selim;
Nunca tive um sobressalto
Se um toiro investe p'ra mim.
Já disse um homem
Que foi toureiro afamado:
"Mais marradas dá a fome
Do que um toiro tresmalhado".
Quando anoitece
E o gado dorme p'lo chão,
Rezo uma prece
Por alma dos que lá estão.
P'ra que as searas
Cresçam livres de tormenta
E o mal não mate as peares
Nem os novilhos de tempera.
Mas quando as cheias
Destroçam pastos e trigo
E há miséria nas aldeias,
Eu vou pensando comigo:
Já disse um homem
Que foi toureiro afamado:
"Mais marradas dá a fome
Do que um toiro tresmalhado".

FERNANDA MARIA

O XAILE DE MINHA MÃE (Adriano Reis/Fado menor)" reportório de Isabel de Oliveira



O XAILE DE MINHA MÃE

O xaile de minha mãe
Que me aqueceu com carinho
Mais tarde serviu também
P’ra agasalhar meu filhinho

Com suas franjas brincava
Ou dormia docemente
Quando minha mãe cantava
As canções de antigamente

Diz meu filho com amor;
Nem um manto de rainha
Para mim tem mais valor
Do que o xaile d’avózinha

Não há relíquia mais linda
Que o xaile dos meus afectos
Quem sabe se serve ainda
Para agasalhar meus netos

E a ambição desmedida
Que minha alma contém
Era vê-lo toda a vida
Aos ombros de minha mãe

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

JOÃO BRAZA

FADO DO SOBREIRO (Abilio Morais/Alfredo Marceneiro)



FADO DO SOBREIRO

Lá no cimo do montado
No ponto mais elevado
Havia um enorme sobreiro
De todos era a cobiça
A dar bolota e cortiça
No montado era o primeiro

Mas um dia a tempestade
Fez ouvir lá na herdade
O ribombar dum trovão
E no céu uma faixa risca
Uma enorme faísca
Fez o sobreiro em carvão

Passaram anos e agora
No mesmo sítio lá mora
Um chaparro altaneiro
E em noites de luar
Houve-se o montado a chorar
Com saudades do sobreiro

É assim a nossa vida
Constantemente vivida
Quase sempre a trabalhar
Mas se um dia a morte vem
Nós deixamos sempre alguém
Com saudades a chorar

ISABEL DE OLIVEIRA

CARMENCITA (



CARMENCITA

Chamava-se carmencita
A cigana mais bonita
Do que um sonho, uma visão
Diziam que era a cigana,
Mais linda da caravana,
Mas não tinha coração

Os afagos, os carinhos
Perdeu- os pelos caminhos
Sem nunca os ter conhecido
Anda buscando a aventura
Como quem anda a procura
De um grão de areia perdido

Numa noite , de luar,
Ouviram o galopar
De dois cavalos fugindo
Carmencita, linda graça
Renegando a sua raça,
Foi atrás de um sonho lindo

Com esta canção magoada
Se envolve no pó da estrada
Quando passa a caravana
Carmencita, carmencita
Se não fosses tão bonita,
Serias sempre cigana

CARLOS RAMOS

NÃO VENHAS TARDE (Aníbal Nazaré/João Nobre)



NÃO VENHAS TARDE

Não venhas tarde,
Dizes-me tu com carinho,
Sem nunca fazer alarde
Do que me pedes, beixinho
Não venhas tarde,
E eu peço a deus que no fim,
Teu coração ainda guarde,
Um pouco de amor por mim.

Tu, sabes bem
Que eu vou p'ra outra mulher,
Que ela me prende também,
Que eu só faço o que ela quer.
Tu, estás sentindo,
Que te minto e sou cobarde,
Mas sabes dizer, sorrindo:
Meu amor, não venhas tarde.

Não venhas tarde,
Dizes-me sem azedume.
Quando o teu coração arde,
Na fogueira do ciúme.
Não venhas tarde,
Dizes-me tu da janela.
E eu venho sempre mais tarde,
Porque não sei fugir dela.

Tu, sabes bem,
Que eu vou p'ra outra mulher,
Que ela me prende também,
Que eu só faço o que ela quer.
Sem alegria, eu confesso, tenho medo,
Que tu me digas um dia:
Meu amor, não venhas cedo.

Sem alegria, eu confesso, tenho medo,
Que tu me digas um dia:
Meu amor, não venhas cedo.
Por ironia, pois nunca sei onde vais,
Que eu chegue cedo algum dia,
E seja tarde demais!

DULCE PONTES

LÁGRIMA Amália Rodrigues/Carlos Gonçalves



LÁGRIMA

Cheia de penas, cheia de penas me deito
E com mais penas, com mais penas me levanto
No meu peito, já me ficou no meu peito
O jeito de te querer tanto

Desespero, tenho por meu desespero
Dentro de mim, dentro de mim o castigo
Não te quero, eu digo que não te quero
E de noite, de noite sonho contigo

Se considero que um dia hei-de morrer
No desespero que tenho de te não ver
Estendo o meu xaile, estendo o meu xaile no chão
Estendo o meu xaile e deixo-me adormecer

Se eu soubesse, se eu soubesse que morrendo
Tu me havias, tu me havias de chorar
Por uma lágrima, por uma lágrima tua
Que alegria me deixaria matar

AMÁLIA RODRIGUES

LÁGRIMA Amália Rodrigues/Carlos Gonçalves



LÁGRIMA

Cheia de penas, cheia de penas me deito
E com mais penas, com mais penas me levanto
No meu peito, já me ficou no meu peito
O jeito de te querer tanto

Desespero, tenho por meu desespero
Dentro de mim, dentro de mim o castigo
Não te quero, eu digo que não te quero
E de noite, de noite sonho contigo

Se considero que um dia hei-de morrer
No desespero que tenho de te não ver
Estendo o meu xaile, estendo o meu xaile no chão
Estendo o meu xaile e deixo-me adormecer

Se eu soubesse, se eu soubesse que morrendo
Tu me havias, tu me havias de chorar
Por uma lágrima, por uma lágrima tua
Que alegria me deixaria matar

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

CARMINHO

MARCHA DE ALFAMA(Amadeu do Vale/Ricardo Rocha, Diogo Clemente e Marino de Freitas)


MARCHA DE ALFAMA (FADO)

Alfama não envelhece
E hoje parece
Mais nova ainda
Iluminou as janelas
Reparem nelas
Como esta linda.
Vestiu a blusa clarinha
Que a da vizinha
É mais modesta
E pôs a saia garrida
Que só é vestida
Em dias de festa.

Becos escadinha ruas estreitinhas
Onde em cada esquina há um bailarico
Trovas p'las vielas e em todas elas
Perfume de manjerico
Risos gargalhadas, fados desgarradas,
Hoje em Alfama é um demónio
E em cada canto um suave encanto
De um trono de Santo António.

Já se não ouvem cantigas
E as raparigas
De olhos cansados
Ainda aproveitam o ensejo
De mais um beijo
Dos namorados
Já se ouvem sinos tocando
Galos cantando
A desgarrada
E mesmo assim dona Alfama
Só volta p'rá casa
Quando é madrugada.

Becos escadinha ruas estreitinhas
Onde em cada esquina há um bailarico
Trovas p'las vielas e em todas elas
Perfume de manjerico
Risos gargalhadas, fados desgarradas,
Hoje em Alfama é um demónio
E em cada canto um suave encanto
De um trono de Santo António.

ADÉLIA PEDROSA

ROSA ENJEITADA (José Galhardo/Raul Ferrão)



ROSA ENJEITADA

Sou essa rosa caprichosa, sem ser má,
Flor de alma pura e de ternura ao Deus dará,
Que viu um dia, que sentia um grande amor,
E de paixão, seu coração estalar de dor

Rosa enjeitada
Sem mãe sem pão, sem ter nada,
Que vida triste e chorada o teu destino te deu
Rosa enjeitada,
rosa humilde e perfumada
Afinal, desventurada, quem és tu?
Rosa enjeitada!... uma mulher que sofreu

Tão pobrezinha ainda tinha uma ilusão,
Alguém que amava, em quem sonhava uma afeição,
Mas esse alguém, por outro bem se apaixonou,
E assim fiquei, sem ele que amei, que me enjeitou

FERNANDO MAURÍCIO

O SOTÃO DA RUA DA AMENDOEIRA (Carlos Conde/Raul Pinto)



O SOTÃO DA RUA DA AMENDOEIRA

Naquele típico sótão
Sob as telhas mais antigas
Da Rua da Amendoeira
Inda há traços que denotam
O sabor dado às cantigas
Pla Matilde cantadeira

Airosa mas inconstante
A Matilde dava ao Fado
A graça de outros estilos
No velho café cantante
Que ficava mesmo ao lado
Da Estalagem dos Camilos

No sótão esconso e sujo
Três sombras, porte ufano
Espreitam a Mouraria
As lágrimas dum Marujo
Os ciúmes dum Cigano
E os remorsos de um Rufia

Senti presos os meus pés
Mas desviei o caminho
E quedei-me ali à beira
Só para ver outra vez
Aquele sótão velhinho
Da rua da Amendoeira

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

JOANA AMENDOEIRA

SOPRA O VENTO(Fernando Pessoa/Paulo Paz)




SOPRA O VENTO

Sopra o vento, sopra o vento,
Sopra alto o vento lá fora,
Mas também meu pensamento
Tem um vento que devora.

Há uma íntima intenção
Que tumultua o meu ser
E faz do meu coração
O que um vento quer varrer.

Não sei se há ramos deitados
Abaixo, no temporal,
Se pés do chão levantados
Num sopro onde tudo é igual.

Dos ramos que ali caíram
Sei só que há magoas e dores
Destinadas a não ser
Mais que um desfolhar de flores.

Sopra o vento, sopra o vento,
Sopra alto o vento lá fora,
Mas também meu pensamento
Tem um vento que devora.

JOANA VEIGA

BARCOS DO TEJO



BARCOS DO TEJO

Cá no alto do castelo está São Jorge a dominar
Olho o Tejo com desvelo a vê-lo correr pró mar
Vejo as velas tão branquinhas, barquinhos a deslizar
Os barcos são alfacinhas e não vão, não vão pró mar


Barcos do Tejo pelo rio a fora
Eu bem os vejo a namorar Lisboa
Iguais às velas que deram fama
Às caravelas de Vasco da Gama
Barcos do Tejo a navegar
Eu bem os vejo olhando pró mar
Barco do Tejo velas à vela
São filigrana de Lisboa
Nobre e tão bela

Destas muralhas com glória cá no alto do castelo
Deito os olhos pró Restelo e oiço falar a história
Vê-las ao vento tal qual as que vês lá em Belém
Mostraram ao mundo bem o valor de Portugal

Barcos do Tejo pelo rio a fora
Eu bem os vejo a namorar Lisboa
Iguais às velas que deram fama
Às caravelas de Vasco da Gama
Barcos do Tejo a navegar
Eu bem os vejo olhando pró mar
Barco do Tejo velas à vela
São filigrana de Lisboa
Nobre e tão bela

TERESA TAROUCA

CAI CHUVA DO CÉU CINZENTO (Fernando Pessoa/Maria Teresa de Noronha)



CAI CHUVA DO CÉU CINZENTO

cai chuva do céu cinzento
que não tem razão de ser
até o meu pensamento
tem chuva nele a escorrer

tenho uma grande tristeza
acresentada à que sinto
quero dize-la mas pesa
o quanto comigo minto

que o grande jeito da vida
é por a vida com jeito
murcha a rosa não colhida
como a rosa posta ao peito

sou como a praia que invade
o mar que torna a descer
mas nisto tudo é verdade
é só eu ter de morrer

terça-feira, 24 de novembro de 2009

MARIZA

CHUVA ( Jorge Fernando )




CHUVA

As coisas vulgares que há na vida
Não deixam saudade
Só as lembranças que doem
Ou fazem sorrir

Há gente que fica na história
Da história da gente
E outras de quem nem o nome
Lembramos ouvir

São emoções que dão vida
À saudade que trago
Aquelas que tive contigo
E acabei por perder

Há dias que marcam a alma
E a vida da gente
E aquele em que tu me deixaste
Não posso esquecer

A chuva molhava – me o rosto
Gelado e cansado
As ruas que a cidade tinha
Já eu percorrera
Ai, meu choro de moça perdida
Gritava à cidade
Que o fogo do amor sob a chuva
Há instantes morrera

A chuva ouviu e calou
Meu segredo à cidade
E eis que ela bate no vidro
Trazendo a saudade

MANUELA CAVACO

O VENTO (Maria da Graça Ferrão/Américo Duarte)



O VENTO

Se o vento soubesse ler
Leria em meu pensamento
A loucura de te ver
A toda a hora e momento

Dizer-te aquilo que sinto
Não sei se parece mal
Diz que sim, não te desminto
O que sou eu afinal

A brisa quando ao passar
Murmura entre a folhagem
Palavras para te adorar
Carinhos à tua imagem

Ouve esta frase sentida
Sem amor não há viver
Amar é próprio da vida
Ai se o vento soubesse ler



NOTA: Sendo este um fado que eu adoro, quero dedicá-lo ao grande amor da minha vida...Com beijinhos da Péta

AMÁLIA RODRIGUES

POVO QUE LAVAS NO RIO (Joaquim Campos/Fado Vitória)



POVO QUE LAVAS NO RIO

Povo que lavas no rio
Que talhas com teu machado
As tábuas do meu caixão
Pode haver quem te defenda
Quem compre o teu chão sagrado
Mas a tua vida não

Fui ter à mesa redonda
Beber em malga que esconda
Um beijo de mão em mão
Era o vinho que me deste
Água pura em fruto agreste
Mas a tua vida não

Aromas de urze e de lama
Dormi com eles na cama
Tive a mesma condição.
Povo, povo eu te pertenço
Deste-me alturas de incenso
Mas a tua vida não

Povo que lavas no rio
Que talhas com teu machado
As tábuas do meu caixão
Pode haver quem te defenda
Quem compre o teu chão sagrado
Mas a tua vida não

HELENA SANTOS

PAIXÃO FADISTA ( António J. Pinto/ Música Popular)



PAIXÃO FADISTA

Gosto do fado castiço
Este fado que é tão nosso
E talvez seja por isso
Que canto sempre que posso

O fado nasce com agente
Enquanto agente viver
Por ser nosso eternamente
Com agente há-de morrer

Hei-de também ser do fado
Entrar nas suas fileiras
Meu nome há-de ser falado
Pelas outras cantadeiras

O fado é minha paixão
Ele é todo o meu encanto
É dele o meu coração
Por isso lhe quero tanto

Quem me dera que deus queira
Que o destino me dê sorte
P`ra que eu seja cantadeira
Ser do fado até à morte

MARIA DA NAZARÉ

SAUDADES DE JÚLIA MENDES (César d'Oliveira / Rogério Bracinha / Paulo Fonseca / João Nobre)



SAUDADES DE JÚLIA MENDES

Ó Júlia, trocas a noite p'lo fado
O fado, esse malandro e vadio
Ó Júlia, olha que é tarde, toma cuidado
Leva o teu xaile traçado porque de noite faz frio

Ó Júlia, andas com a noite na alma
Tem calma, ainda te perdes p'ra aí
Ó Júlia, se estás de novo vencida
Não queiras gostar da vida que ela não gosta de ti

Não fales coração, tu és um tonto sem razão,
Viver só por se querer não chega a nada
Aceita a decisão que os fados trazem ao nascer
Todos nós temos de viver de hora marcada

Se Deus me deu a voz,
que hei-de eu fazer senão cantar
O fado e eu a sós queremos chorar
Eu fujo não sei bem
talvez do mundo ou de ninguém
Talvez de mim,
quando oiço alguém dizer-me assim

Ó Júlia, trocas a noite p'lo fado
O fado, esse malandro e vadio
Ó Júlia, olha que é tarde, toma cuidado
Leva o teu xaile traçado porque de noite faz frio

Ó Júlia, andas com a noite na alma
Tem calma, ainda te perdes p'ra aí
Ó Júlia, se estás de novo vencida
Não queiras gostar da vida que ela não gosta de ti

CARLOS MACEDO E MARINA MOTA

MINHA MÃE É POBREZINHA (Linhares Barbosa/Fado Corrido)



MINHA MÃE É POBREZINHA

Minha mãe é pobrezinha
Não tem nada para me dar
Dá-me beijos, coitadinha
E depois põe-se a chorar

Tonecas e Marianela
Dois engraçados garotos,
Foram sentar-se, os marotos
Por sob a minha janela,
Nisto diz ele p'ra ela;
Andas tão mal vestidinha
Ando sim, mas não é minha,
A culpa de andar assim,
A vida está tão ruim
Minha mãe é pobrezinha

Tu nunca andaste calçada
Nunca tiveste sapatos
Ela baixou os gaiatos
Olhitos, envergonhada,
Tu nunca tiveste nada,
Uma corda p'ra saltar,
Um arco para brincar
Um tambor, muitas bonecas
Minha mãezinha, Tonecas
Não tem nada p'ra me dar

Eu não posso perceber
tu nunca foste á escola
Para gente pedir esmola
Não precisa saber ler
Então onde vais comer?
A casa duma vizinha!
Como lá, de manhãzinha
Á noite vou lá também
E depois, a minha mãe
Dá-me beijos coitadinha

Beijos são apenas beijos
perdoa que eu te diga
Se não enchem a barriga
Não devem matar desejos
Mas não sabem a sobejos
Têm outro paladar
Sabem ao doce manjar
Dos mais ternos alimentos
Minha mãe dá-mos aos centos
E depois põe-se a chorar

ANTÓNIO DOS SANTOS

PARTIR É MORRER UM POUCO (Mascarenhas Barreto /António dos Santos)ANTÓNIO DOS SANTOS



PARTIR É MORRER UM POUCO

Adeus parceiros das farras

Dos copos e das noitadas

Adeus sombras da cidade

Adeus langor das guitarras

Canto de esperanças frustradas

Alvorada de saudade.

Meu coração como louco
Quer desgarrar-me do peito

Transforma em soluço a voz

Partir é morrer um pouco

A alma de certo jeito

A expirar dentro de nós.

Voam mágoas em pedaços
Como aves que se não cansam

Ilusões esparsas no ar.

Partir é estender os braços

Aos sonhos que não se alcançam

Cujo destino é ficar.

Deixo a minh’alma no cais

De longe canto sinais
Feitos de pranto a correr.

Quem morre não sofre mais

Mas quem parte é dor demais

É bem pior que morrer!

Quem morre não sofre mais
Mas quem parte é dor demais

É bem pior que morrer!

CARLOS MACEDO

ROUXINOL DA CANEIRA (Maria Manuel Cid /fado mouraria)



ROUXINOL DA CANEIRA

Fez o ninho o rouxinol
A tocar na água baixa
Guardado da luz do sol
P'la caneira da maracha

Não tem que pôr sua mesa
Nem de calar a verdade
É senhor da natureza
E dono da liberdade

É livre de olhar as águas
De se afogar na corrente
É livre de contar mágoas
É livre de estar contente

Ninguém te corta o caminho
Nem te impede de voar
Ninguém te nega carinho
Ninguém te obriga a calar

Ó rouxinol da caneira
Inveja de toda a gente
Hás-de ensinar-me a maneira
De viver tão livremente

CIDÁLIA MOREIRA

PRIMEIRO AMOR (Nelson de Barros/Frederico Valério)



PRIMEIRO AMOR

Ai quem me dera
Ter outra vez vinte anos
Ai como eu era
Como te amei, santo Deus!
Meus olhos
Pareciam dois franciscanos
À espera
Do céu que vinha dos teus

Beijos que eu dava
Ai como quem morre rosas
Como te esperava
Na viva que então vivi
Podiam acabar os horizontes
Podiam secar as fontes
Mas não vivia sem ti

Ai como é triste
De o dizer não me envergonho
Saber que existe
Um ser tão mau, tão ruim,
Tu que eras
Um ombro para o meu sonho
Traíste o melhor que havia em mim

Ai como o tempo
Pôs neve nos teus cabelos
Ai como o tempo
As nossas vidas desfez
Quem me dera
Ter outra vez desenganos
Ter outra vez vinte anos
Para te amar outra vez!

HERMÍNIA SILVA

FADO DO RETIRO (José Galhardo/Raul Ferrão)



FADO DO RETIRO

É tão fresca a melancia
Como a boca da mulher;
Nas tardes de romaria
Rapazes é que é beber,
Chega a gente ao fim do dia
Sem dar p’lo amanhecer

É para esquecer
É para esquecer
Que assim beber
Tu me vês a vida inteira
Com este copo na mão
Que tem de sofrer
Mais vale beber até poder ter
O sangue de uma videira
Cá dentro do coração.

Ó tristeza vai-te embora
Que a vida passa a correr
Se não te alegras agora
Quando é que o hás-de fazer?
Bota o vinho a toda a hora
Canta, canta até poder

Se calhar haver zaragata
Com um freguês que tem mau vinho
Pr’a não estragar a frescata
É dizer-lhe com jeitinho
Bebe lá mais meia lata,
Vá lá mais um pastelinho!

MARINA MOTA

A SAUDADE É MINHA (Carlos Conde/Túlio Pereira)



A SAUDADE É MINHA


Quando alguém vive longe de quem ama
E sente a alma triste dolorida
Há sempre uma saudade que nos chama
Para nos ir matando e dando vida

Quando agente se esquece de lembrar
Aquilo que se lembra de esquecer
Há sempre uma saudade p`ra matar
E logo outra saudade p`ra viver

Venha a saudade quero ir brincar com ela
Quero espreitar-te p`las cortinas das janelas
Venha a tristeza quero ter com quem chorar
Abro-te a porta meu amor podes entrar

Eu tive uma saudade que não digo
Ganhei-a na esperança da amizade
Ando agora a perdê-la por castigo
Na esperança que tive da saudade

A saudade que eu tenho ando a cantar
É resto de um amor que alguém deixou
Se a lembro vivo o sol que anda a brilhar
Se a esqueço sinto a dor que já passou

Venha a saudade quero ir brincar com ela
Quero espreitar-te p`las cortinas das janelas
Venha a tristeza quero ter com quem chorar
Abro-te a porta meu amor podes entrar

TERESA TAROUCA

TESTAMENTO (Alda Lara/JJ Cavalheiro Júnior)



TESTAMENTO

Á rapariga mais nova
Do bairro mais velho e escuro
Deixo os meus brincos lavrados
Em cristal límpido e puro

E áquela virgem esquecida
Sonhando alto uma lenda
Deixo o meu vestido branco
Todo tecido de renda

E este meu rosário antigo
De contas da côr dos céus,
Ofereço-o aquele amigo
Que não acredita em Deus

E os livros, rosários meus
Das contas doutro sofrer
São para os homens humildes
Que nunca souberam ler

Quanto aos meus poemas loucos
Esses que são só de dor
E aquele que são de esperança
São para ti, meu amor

P’ra que tu possa um dia
Com passos feitos de lua,
Oferece-los ás crianças
Que encontrares em cada rua

ERCÍLIA COSTA

FADO DO PASSADO (M. de Lencastre / V. Bastos)



FADO DO PASSADO

Cantado por meretrizes
Chorando sua quimera
O fado criou raízes
Na garganta da Severa

O fado em várias orgias
Descreveu a sorte vária
Entre pranto e alegria
Cantado pela Cesária

É filho de Portugal
E tem gravado na história
A fadista divinal
Que foi Maria Vitória

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

CARMINHO

ESCREVI TEU NOME NO VENTO (Jorge Rosa /Raul Ferrão)



ESCREVI TEU NOME NO VENTO

Escrevi teu nome no vento
Convencida que o escrevia
Na folha do esquecimento
Que no vento se perdia

E ao vê-lo seguir envolto
Na poeira do caminho
Julguei meu coração solto
Dos elos do teu carinho

Pobre de mim, nem pensava
Que tal e qual como eu
O vento se apaixonava
Por esse nome que é teu

Enquanto o vento se agita
Agita-se o meu tormento
Quero esquecer-te, acredita
Mas cada vez há mais vento

ANA MOURA

OS BÚZIOS (Jorge Fernando/ Jorge Fernando)



OS BÚZIOS

Havia a solidão da prece, no olhar triste,
Como se os seus olhos fossem as portas de pranto
Sinal da cruz que persiste, os dedos contra o quebranto
E os búzios que a velha lançava sobre um velho manto.

Á espreita está um grande amor mas guarda segredo,
Vazio tens o teu coração na ponta do medo.
Vê como os búzios caíram virados p`ra norte,
Pois eu vou mexer no destino, vou mudar-te a sorte. (bis)

Havia um desespero intenso na sua voz,
O quarto cheirava a incenso, mais uns quantos pós,
A velha agitava o lenço dobrou-o deu-lhe 2 nós
E o seu pai de santo falou usando lhe a voz

Á espreita está um grande amor mas guarda segredo
Vazio tens o teu coração na ponta do medo
Vê como os búzios caíram virados p`ra norte,
Pois eu vou mexer no destino, vou mudar-te a sorte. (bis)

ADA DE CASTRO

DESEJO LOUCO (L.Fidalgo /José Maria Nóbrega)



DESEJO LOUCO

Roguei ao meu coração
Para não bater apressado
Quis saber qual a razão
Deste meu tonto cuidado

Respondi-lhe que te amava
De te perder tinha medo
E assim a bater andava
A espalhar o meu segredo

Queria só para nós dois
Aventura deste amor
Prometeu-me mas depois
O seu bater foi maior

Agora quando te vejo
Sei enfim qual a razão
Deste meu louco desejo
De parar o coração

ANTÓNIO SEVERINO

AQUELA IGREJA (Marques Vidal /Miguel Ramos)



AQUELA IGREJA

Recordo aquele dia em que disseste
Vou à igreja p’ra falar com Deus
Quis-te fazer surpresa não soubeste
Mas segui nesse dia os passos teus.

Porém quando chegaste à capela
Entraste no portal que havia em frente
Segui-te pela escada e ouvi nela
O som de porta aberta de repente.

Subi, fechou-se a porta que se abrira,
Encostei meu ouvido à fechadura,
E percebi que tu eras mentira,
E o meu amor por ti era loucura.

Palavras de carinho e de prazer
De ti, da tua voz se desprendeu
Tu tinhas ido ali para vender,
O corpo que eu pensava que era meu.

Desci a escadaria, quem rasteja
Com lágrimas de dor nos olhos meus,
E afinal quem foi à tal Igreja
Fui eu apenas eu falar com Deus.

FERNANDO FARINHA

O TEMPO É QUEM MANDA (Linhares Barbosa/Alberto Lopes)



O TEMPO É QUEM MANDA

Lá porque eu era um miúdo
Passavas toda emproada
Hoje por mim davas tudo
Mas não te quero p'ra nada

Ainda pequeno andei preso
Ao teu olhar de veludo
Olhavas-me com desprezo
Lá porque eu era um miúdo

É um garoto qualquer
Dizias, á gargalhada
E como grande mulher
Passavas toda emproada

Cresci, já não sou criança
Estou certo e não me iludo
Se te desse confiança
Hoje por mim davas tudo

Sei que os anos te consomem
Sei que te sentes cansada
Que me queres por já ser homem
Mas não te quero p'ra nada

MARIA LEOPOLDINA DA GUIA

A LENDA DAS ROSOS (Linhares Barbosa / António de Bragança)



LENDA DAS ROSAS

Na mesma campa nasceram
Duas roseiras a par,
Conforme o vento as movia
Iam-se as rosas beijar

Deu uma rosas vermelhas,
Desse vermelho que os sábios
Dizem ser da cor dos lábios,
Onde o amor põe centelhas
Da outra, gentis parelhas
De rosas brancas vieram,
Só nisso diferentes eram,
Nada mais as diferençou
A mesma seiva as criou
Na mesma campa nasceram

Dizem contos magoados
Que aquele triste coval
Fora leito nupcial
De dois jovens namorados,
Que, no amor contrariados,
Ali se foram finar,
Mas continuaram a amar
Lá no além todavia
E por isso ali havia
Duas roseiras a par

A lenda, triste, singela,
Conta mais, que as rosas brancas
Eram as mãos puras, francas,
Da desditosa donzela
E ao querer beijar as mãos dela,
Como na vida fazia,
A boca dele se abria
Em rosas de rubra cor
E segredavam o amor
Conforme o vento as movia

Quando as crianças brincavam
Junto aquela sepultura
Toda a gente afirma e jura
as rosas brancas coravam
E as vermelhas se fechavam
Para ninguém lhes tocar
Mas que alta noite, ao luar
Entre um séquito de goivos,
Tal qual os lábios dos noivos
Iam-se as rosas beijar. "

HERMÍNIA SILVA

FADO DA FADISTA (DR)



FADO DA FADISTA

Nasci num dia de chuva,
Eu chorava, o céu chorava.
Minha mãe cantava o fado
A ver se me consolava.
Depois palrei,
Depois falei,
Depois cantei,
Como quem sente um segredo
Represado na garganta
Vivi, sofri
E no que vi,
Compreendi
Que a fadista de nascença
Só é mulher quando canta.

Num dia de sol ardente
Passou pela minha rua,
Olhámos um para o outro,
E eu senti que ia ser sua.
Ainda hesitei,
Mas o que eu sei
É que cantei
Como quem canta, sentindo
Que a própria alma é que canta
E a fulgurar
A suplicar
O seu olhar,
Tinha a mesma labareda
Que me queimava a garganta.


Numa noite fria e escura
Não voltou à nossa casa.
Pus os olhos no meu filho
Sentindo-os em brasa.
E só então,
Meu coração,
Nessa traição
Entendeu a dor profunda
Que há na alma de quem canta.
Se me deixou,
Me abandonou,
Fez-me o que eu sou...
Agonia da saudade
Que enrouquece uma garganta.

ALFREDO MARCENEIRO

O MARCENEIRO (Armando Neves/Alfredo Marceneiro)



O MARCENEIRO

Com lídima expressão e voz sentida
Hei-de cumprir no Mundo a minha sorte
Alfredo Marceneiro toda a vida
Para cantar o fado até à morte.

Orgulho-me de ser em toda a parte
Português e fadista verdadeiro,
Eu que me chamo Alfredo, mas Duarte
Sou para toda a gente o Marceneiro.

Este apelido em mim, que pouco valho,
Da minha honestidade é forte indício.
Sou Marceneiro, sim, porque trabalho,
Marceneiro no fado e no ofício.

Ao fado consagrei a vida inteira
E há muito, por direito de conquista.
Sou fadista, mas à minha maneira,
Há maneira melhor de ser fadista?

E se alguém duvidar crave uma espada
Sem dó numa guitarra para crer,
A alma da guitarra mutilada
Dentro da minha alma há-de gemer.

AMÁLIA RODRIGUES

LISBOA ANTIGA (Amadeu Augusto dos Santos/ José Maria Galhardo/ Raul Portela)



LISBOA ANTIGA


Lisboa, velha cidade
Cheia de encanto e beleza
Sempre a sorrir tão formosa
E no vestir sempre airosa
No branco véu da saudade
Cobre o teu rosto, linda princesa

Olhai, Senhor
Esta Lisboa de outras eras
Dos cinco réis, das esperas
E das toiradas reais
Das festas
Das seculares procissões
Dos populares pregões matinais
Que já não voltam mais

Lisboa, velha cidade
Cheia de encanto e beleza
Sempre a sorrir tão formosa
E no vestir sempre airosa
No branco véu da saudade
Cobre o teu rosto, linda princesa

Olhai, Senhor
Esta Lisboa de outras eras
Dos cinco réis, das esperas
E das toiradas reais
Das festas
Das seculares procissões
Dos populares pregões matinais
Que já não voltam mais

MARIA TERESA DE NORONHA

DESENGANO (Mário Pissarra /José Marques)



DESENGANO

E adorei-te, acreditei
No bem que eu ambicionei
Dum amor sinceridade
As tuas promessas puras
E o calor das duas juras
Tinham a luz da verdade

Mas um dia te esqueceste
De tudo o que me disseste
Em confissões tão ardentes
Iludiste duas vidas
Com mil palavras fingidas
Que não sentiste nem sentes

Ao contemplar o passado
Como um golpe já fechado
Que ainda sinto doer
Vejo em teus falsos carinhos
Que as rosas têm espinhos
E também fazem sofrer.

HERMÍNIA SILVA

LUGAR VAZIO (Fernando Farinha / Alberto Correia)



LUGAR VAZIO

É de noite que me lembro
De tudo o que eu tinha
Ao sentir-me abandonada
Deitada, sozinha
Lembro aquela felicidade
Que outrora foi minha

Chego a julgar-te a meu lado
Contigo, deitado,
Procuro na escuridão
Mas o teu lugar vazio
Está tão vazio e tão frio
Como esse teu coração

Olhando a tua moldura
Virada p’ra mim
Ambos sofremos o mesmo
Destino ruim
Falta nela o teu retrato
E faltas-me tu a mim