PEDIDOS DE OPINIÕES

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quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

ANA MARIA BOBONE

SABE-SE LÁ (Frederico Valério/Silva Tavares)



SABE-SE LÁ

Lá porque ando em baixo agora
Não me neguem vossa estima
Que os alcatruzes da nora, quando chora
Não andam sempre por cima

Rir da gente ninguém pode
Se o azar nos amofina
Pois se Deus não nos acode
Não há roda que mais rode
Do que a roda da má sina

Sabe-se lá... quando a sorte é boa ou má
Sabe-se lá... amanhã o que virá
Breve desfaz-se uma vida honrada e boa
Ninguém sabe, quando nasce
P'ró que nasce uma pessoa

O preciso é ser-se forte
Ser-se forte e não ter medo
Porque na verdade a sorte, como a morte
Chega sempre tarde ou cedo

Ninguém foge ao seu destino
Nem para o que está guardado
Pois por um condão divino
Há quem nasça pequenino
P’ra cumprir um grande fado

Sabe-se lá... quando a sorte é boa ou má
Sabe-se lá... amanhã o que virá
Breve desfaz-se uma vida honrada e boa
Ninguém sabe, quando nasce
P'ró que nasce uma pessoa

DÂNA

JULIA FLORISTA (Joaquim Pimentel e Leonel Villar)



JULIA FLORISTA

A Júlia florista
Noémia e fadista
Diz a tradição
Foi nesta Lisboa
Figura de proa
Da nossa canção
Figura bizarra
Que ao som da guitarra
O fado viveu
Vendia as flores
Mas os seus amores
Jamais os vendeu

Ó Júlia florista
Tua linda história
O tempo marcou
Na nossa memória
Ó Júlia florista
Tua voz ecoa
Nas noites bairristas
Boémias, fadistas
Da nossa Lisboa

Chinela no pé
Um ar de ralé
No jeito de andar
Se a Júlia passava
Lisboa parava
Para a ouvir cantar
No ar um pregão
Na boca a canção
Falando de amores
Encostado ao peito
A graça e o jeito
Do cesto das flores.

Ó Júlia florista
Tua linda história
O tempo marcou
Na nossa memória
Ó Júlia florista
Tua voz ecoa
Nas noites bairristas
Boémias, fadistas
Da nossa Lisboa

JOANA AMENDOEIRA

AQUELA RUA (



AQUELA RUA

Não me fales dessa rua, a rua
Que pra mim foi a mais linda ainda
Sim, prefiro que te cales
Fala-me das horas de hoje
Do passado, não me fales!

Nesse tempo de quimera, eu era
Como simples açucena pequena
Pura como a luz da lua
Era a menina bonita
Do princípio ao fim da rua.

Bibe azul aos quadradinhos
Fitas e laços de ir para a escola
Hoje eu sigo outros caminhos
Fiz dos teus braços
Uma gaiola

Canções alegres que eu tinha
Que eram da moda, só sei cantar
Olha a triste viuvinha
Que anda na roda
E anda a chorar

Era irmã daquela fonte defronte
Aprendi a tagarela com ela
Tudo na vida me dou
Porque um dia tu passaste
Passaste fonte secou

Meu canteirinho de barro bizarro
Fosse lá pelo que fosse, quebrou-se
Passaste a chamar-me tua
Desde então não mais pisei
As pedras daquela rua

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

NATÉRCIA MARIA

SÓ À NOITINHA (Frederico Valério / Amadeu do Vale / Raul Ferrão)



SÓ À NOITINHA

Tive-lhe amor, gemi de dor, de dor violenta
Chorei sofri e até por si fui ciumenta
Pois todo o mal tem um final, passa depressa
E hoje você, não sei porquê, já não me interessa

Bendita a hora
Que o esqueci por ser ingrato
E deitei fora
As cinzas do seu retrato;
Desde esse dia
Sou feliz, sinceramente
Tenho alegria
De cantar e andar contente;
Só à noitinha,
Quando me chega a saudade
Choro sozinha
P’ra chorar mais à vontade

Desde esse dia
Sou feliz, sinceramente
Tenho alegria
De cantar e andar contente;
Só à noitinha,
Quando me chega a saudade
Choro sozinha
P’ra chorar mais à vontade

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

CARLOS ZEL

FADO LOUCURA (



FADO LOUCURA

Sou do fado
Como sei
Vivo um poema cantado
De um fado que eu inventei
A falar
Não posso dar-me
Mas ponho a alma a cantar
E as almas sabem escutar-me
Chorai, chorai
Poetas do meu país
Troncos da mesma raiz
Da vida que nos juntou
E se vocês não estivessem a meu lado
Então não havia fado
Nem fadistas como eu sou
Nesta voz tão dolorida
É culpa de todos vós
Poetas da minha vida
A loucura, ouço dizer
Mas bendita esta loucura de cantar e de sofrer
Chorai, chorai
Poetas do meu país
Troncos da mesma raiz
Da vida que nos juntou
E se vocês não estivessem a meu lado
Então não havia fado
Nem fadistas como eu sou

RODRIGO

FIZ LEILÃO DE MIM (Artur Ribeiro/ Max)



FIZ LEILÃO DE MIM

Talvez de razão, perdida
Quis fazer leilão da vida
Disse ao leiloeiro
Venda ao desbarato
Venda o lote inteiro
Que de mim estou farto
Meus versos que não são versos
Atirei ao chão dispersos
A ver se algum dia
O mundo pateta
Por analogia
Diz que sou poeta

Fiz leilão de mim
E fui por fim apregoado
Mas de mau que sou
Ninguém gritou arrematado
Fiz leilão de mim
Tinhas razão minha almofada
Com lances a esmo
Provei a mim mesmo
Que não valho mais que nada

Também quis vender, meu fado
Meu modo de ser errado
Leiloei ternura
Chamaram-me louco
Mostrei amargura
E o mundo fez pouco
Depois leiloei carinho
E em praça fiquei sozinho
Diz-me a pouca sorte
Que para castigo
Até vir a morte
Vou ficar comigo.

Fiz leilão de mim
Tinhas razão minha almofada
Com lances a esmo
Provei a mim mesmo
Que não valho mais que nada

JOÃO FERREIRA ROSA

A MINHA FRAGATA (



A MINHA FRAGATA

A minha fragata é minha
Não pertence a mais ninguém
Gastei nela quanto tinha
E fiz-me ao mar sem vintém

Eu levo tudo comigo
Em terra não fica nada
Levo Deus que é meu amigo
Levo flores, levo alvorada

Há quem diga que as saudades
Foi em terra que as deixei,
Mas juro são falsidades
Que as que trago só eu sei.

Juntei-as em meu redor
Como nó que não desata,
Vão comigo p`ra onde eu for
Dentro da minha fragata.

ALA DOS NAMORADOS

HISTÓRIA DO ZÉ PASSARINHO (



HISTÓRIA DO ZÉ PASSARINHO

Pela saída que tem
Da vadiagem alguém
Chamou-lhe o Zé Passarinho
Fala em verso e as mulheres
Ao fim de duas colheres
Leva-as no bico p'ró ninho

Sabe os fados do Alfredo
Rima que até mete medo
Nesta função é doutor
Tem os tiques de fadista
Mão no bolso, lenço e risca
"Baixem a luz por favor!"

Numa triste noite ao frio
Cantava-se ao desafio
Para aquecer as paixões
Quando um estranho se levanta
Para mostrar como se canta
Faz-se à Rosa dos Limões

O povo ficou sentido
Com aquele destemido
Hás-de morrer engasgado!
Palavra puxa palavra
Desata tudo à estalada
Com o posto ali ao lado

Nem foi preciso a carrinha
Tudo na sua perninha
Numa linda procissão
Das perguntas com carinho
Ficou preso o Passarinho
Só para investigação

Nasce o dia atrás da Sé
E ninguém arreda pé
Nem por dó, nem por esmola
O povo ficou sentado
Para ouvir cantar o fado
Passarinho na gaiola

JOÃO FERREIRA ROSA

TRISTE SORTE (



TRISTE SORTE

E ando da vida à procura
Duma noite menos escura
Que traga luar do céu.
Duma noite menos fria,
E em que não sinta a agonia
Dum dia a mais que morreu.

Vou cantando amargurado,
Mais um fado e outro fado
Que fale do fado meu.
Meu destino assim cantado
Jamais pode ser mudado
Porque do fado sou eu.

Ser fadista é triste sorte,
Que nos faz pensar na morte
E em tudo o que em nós morreu.
E andar na vida à procura
Duma noite menos escura
Que traga luar do céu.

ANA MOURA

ROSA COR DE ROSA ( Jorge Fernando / Custódio Castelo )



ROSA COR DE ROSA

Rosa, rosa cor-de-rosa flor
A florir os meus cuidados
Sobra-me a dor, sobra-te a cor
P'ra cumprir meus fados
Sobra-me a dor, sobra-te a cor
P'ra cumprir meus tristes fados

Rosa, rosa cor-de-rosa traz
A saudade apetecida
Fico-me a trás, roubo-te a paz
Se te roubar a vida
Fico-me a trás, roubo-te a paz
Se te roubo um dia a vida

Rosa, rosa cor-de-rosa enfim
Quando a cor se desvanece
Eu sei de ti, sabes de mim
Quando amor acontece
Eu sei de ti, sabes de mim
Quando amor nos acontece

Rosa, rosa cor-de-rosa tens
No teu pé a sede de água
Não sei que tens, nem de onde vens
Cuida a minha mágoa
Não sei que tens, nem de onde vens
Cuida bem a minha mágoa

domingo, 24 de janeiro de 2010

JOSÉ VIANA

FADO DO CACILHEIRO (Paulo Fonseca/Carlos Dias)



FADO DO CACILHEIRO

Quando eu era rapazote
Levei comigo no bote
Uma varina atrevida
Manobrei e gostei dela
E lá me atraquei a ela
P’ró resto da minha vida

Às vezes uma pessoa
A saudade não perdoa
Faz bater o coração
Mas tenho grande vaidade
Em viver a mocidade
Dentro desta geração

Sou marinheiro
Deste velho cacilheiro
Dedicado companheiro
Pequeno berço do povo
E navegando
A idade foi chegando
Ai... O cabelo branqueando
Mas o Tejo é sempre novo

Todos moram numa rua
A que chamam sempre sua
Mas eu cá não os invejo
O meu bairro é sobre as águas
Que cantam as suas mágoas
E a minha rua é o Tejo

Certa noite de luar
Vinha eu a navegar
E de pé junto da proa
Eu vi ou então sonhei
Que os braços do Cristo-Rei
Estavam a abraçar Lisboa

Sou marinheiro
Deste velho cacilheiro
Dedicado companheiro
Pequeno berço do povo
E navegando
A idade foi chegando
Ai... O cabelo branqueando
Mas o Tejo é sempre novo

MAFALDA ARNAUTH

O FADO DOS FADOS (



O FADO DOS FADOS

Aquele amor derradeiro
Maldito e abençoado
Pago a sangue e a dinheiro
Já não é amor, é fado.

Quando o ciúme é tão forte
Que ao próprio bem desejado
Só tem ódio ou dá a morte
Já não é ciúme, é fado.

Canto da nossa tristeza
Choro da nossa alegria
Praga que é quase uma raiva
Loucura que é poesia

Um sentimento que passa
A ser eterno cuidado
E razão duma desgraça
E assim tem de ser, é fado.

O remorso de quem sente
Que se voltasse ao passado
Pecaria novamente
Já não é remorso, é fado.

E esta saudade de agora
Não de algum bem acabado
Mas das saudades de outrora
Já não é saudade, é fado.

Canto da nossa tristeza
Choro da nossa alegria
Praga que é quase uma raiva
Loucura que é poesia

Um sentimento que passa
A ser eterno cuidado
E razão duma desgraça
Se assim tem de ser, é fado

ANTÓNIO ZAMBUJO

NEM ÀS PAREDES CONFESSO (Maximiano / Artur Ribeiro / Ferrer Trindade)



NEM ÀS PAREDES CONFESSO

Não queiras gostar de mim sem que eu te peça
Nem me dês nada que ao fim eu não mereça
Vê se me deitas depois culpas no rosto
Isto é sincero, porque não quero dar-te um desgosto

De quem eu gosto
Nem ás paredes confesso
E até aposto que não gosto de ninguém
Podes rogar, podes chorar, podes sorrir também
De quem eu gosto
Nem ás paredes confesso

Quem sabe se te esqueci ou se te quero
Quem sabe até se é por ti que eu tanto espero
Se gosto ou não, afinal, isso é comigo
Mesmo que penses que me convences, nada te digo

De quem eu gosto
Nem ás paredes confesso
E até aposto que não gosto de ninguém
Podes rogar, podes chorar, podes sorrir também
De quem eu gosto
Nem ás paredes confesso

ANTÓNIO MOURÃO

MÃE (



MÃE

Mãe que desgraça na vida aconteceu
Que ficaste insensível e gelada
Que todo o teu perfil se endureceu
Numa linha severa e desenhada
Como as estátuas que são gente nossa
Quem sabe de palavras e ternura
Assim tu me apareces no teu leito
Presença cinzelada em pedra dura
Que não tem o coração dentro do peito
Chamo aos gritos por ti
Não me respondes
Beijo-te as mãos e o rosto, sinto frio
Ou és outra, ou me enganas ou te escondes
Por detrás do terror deste vazio
Ou és outra, ou me enganas ou te escondes
Por detrás do terror deste vazio

Mãe abre os olhos ao menos diz que sim
Diz que me vês ainda que me queres
Que és a eterna mulher entre as mulheres
Que nem a morte te afastou de mim
Que és a eterna mulher entre as mulheres
Que nem a morte te afastou de mim

AMÉRICO

DÁ TEMPO AO TEMPO (



DÁ TEMPO AO TEMPO

Nunca pensei
Depois de tanta amizade
Ficasse tanta maldade
Escondida no teu peito
Nunca pensei
Mas teu dia há-de chegar
E por certo hás-de pagar
Tanto mal que me tens feito

Dá tempo ao tempo
Ri enquanto tens vontade
Talvez um dia a saudade
Não te deixe rir assim
Dá tempo ao tempo
Que o tempo corre e não cansa
Eu não perdi a esperança
De te ver chorar por mim

Pouco me importa
O que dizes e o que pensas
Nem faço caso às ofensas
Que vives fazendo à toa
Tenho a certeza
Que esse teu riso atrevido
Há-de um dia ser vencido
Porque o tempo não perdoa

Dá tempo ao tempo
Ri enquanto tens vontade
Talvez um dia a saudade
Não te deixe rir assim
Dá tempo ao tempo
Que o tempo corre e não cansa
Eu não perdi a esperança
De te ver chorar por mim

FLORA PEREIRA

JANELAS ENFEITADAS (Linhares Barbosa/Casimiro Ramos)



JANELAS ENFEITADAS

Não sabes porque enfeito estas janelas?
Enfeito-as só por ti, fica sabendo
Os olhos desta casa são só elas
Quero que elas sorriam em te vendo

Os laços cor-de-rosa, nas cortinas,
Craveiros, em dois vasos, encarnados
Canta um canário, a horas matutinas,
Uma canção de beijos repicados

As grades, nas janelas, torna-as feias
Nem mesmo requintadas tabuinhas
Janelas dessas lembram as cadeias
Quero que o sol e a lua entrem nas minhas

Quero poder mostrar-te, quando passas
Gradeamentos são para os escravos
Por isso é que eu enfeito estas vidraças
Por ti é que eu cultivo rubros cravos.

Quero poder mostrar-te, quando passas
Gradeamentos são para os escravos
Por isso é que eu enfeito estas vidraças
Por ti é que eu cultivo rubros cravos.

AMÉRICO

NOITES PERDIDAS (Fernando Pinto/Alfredo Marceneiro)



NOITES PERDIDAS

Noites perdidas no sonho
Em que morrendo suponho
Que vale a pena viver
Noites em que me encontrei
Tão perdido que me achei
Sem sequer me conhecer

Noites escuras de breu
Em que deixei de ser eu
Para ser quem sou agora
Noites de luta sangrenta
De trevas que me alimenta
E da luz que me devora

Noites de tristes Vielas
E das fechadas janelas
De uma mulher toda nua
Noites de fogo e de frio
Que me inindam como um Rio
A transbordar pela rua

Noites de amor feito firme
Que me condena e redime
Nos pecados de viver
Noites em que me encontrei
Tão perdido que já sei
Que vale a pena morrer

sábado, 23 de janeiro de 2010

JOAQUIM MENDES

AMOR DE PAI (Armando Neves / José António da Silva)



AMOR DE PAI

Eu não sei porque razões
Porque indiferença ou desdém
Nesta vida que se esvai;
Se escrevem tantas canções
A lembrar o amor de mãe
Esquecendo o amor de pai

Porque motivo afinal
O coração português
Não canta esse amor profundo
Se ao amor de mãe, é igual
O amor de pai é talvez
O maior amor do mundo

Cantando, sinto desejos
De bem alto proclamar
Todo o amor que um pai revela
A mãe, aos filhos dá beijos
Mas o pai sem os beijar
Dá-lhe mais beijos do que ela

Tanto a mulher, como o homem
Do amor de pai não se farte
Amor como esse não há
Pois o pão que os filhos comem
É a mãe quem o reparte
Mas é o pai quem o dá

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

MARIA ALCINA E SEBASTIÃO ROBALINHO

DESGARRADA: O FADO NÃO PODE ACABAR



DESGARRADA: O FADO NÃO PODE ACABAR

Vou abrir a desgarrada
Nesta luta desmedida
Se o fado vai acabar
Que será da tua vida?

Que será da minha vida?
Que pergunta equerente
Eu direi das nossas vidas
E também de muita gente

Desde a era de Camões
Nas conquistas e convés
Que os fados e canções
Correm mundo lés a lés

É por isso minha amiga
Que afirmo mais uma vez
Só pensa acabar com o fado
Quem não é bom Português

Quase acabaram com tudo
Nosso belo passado
E como não satisfeitos
Queriam acabar com o fado

O fado é intocável
Lá tem seu berço e raiz
Tem o seu lugar na história
Das canções do meu país

HELENA TAVARES

ALFAMA VELHINHA (



ALFAMA VELHINHA

Alfama velhinha
De lagos a brilhar
Tão cheia de graça
Na marcha que passa
Lá vai a cantar
Alfama velhinha
Brilhando ao luar
Nos arcos eu vejo
O azul do Tejo por a passar

Alfama estreitinha
Tu és tão velhinha e amo-te tanto
As tuas Vielas
Arcos e janelas
Tão mundo de encanto
Tu tens tal beleza
Nessa singeleza, tão bela e tão boa
Alfama velhinha
Tu és a Raínha
Da nossa Lisboa

São João da Praça
Já tem outra cor
Pois Santa Luzía, vive noite e dia
Palavras de amor
Tu és...Escadinhas
Que descem pró mar
Levam o segredo
Deste amor sem medo
Que anda p`lo ar

Alfama estreitinha
Tu és tão velhinha e amo-te tanto
As tuas Vielas
Arcos e janelas
Tão mundo de encanto
Tu tens tal beleza
Nessa singeleza, tão bela e tão boa
Alfama velhinha
Tu és a Raínha
Da nossa Lisboa

MERCÊS DA CUNHA REGO

VARANDAS (



VARANDAS

Nas varandas desta rua
Há uma que vive nua
Outra que não tem lençois
a terceira é um catavento
Em Março noiva do vento
Em Julho amante do sol

As outras não têm hostória
Ou perderam a memória
Ou passam a vida à espera
Mas há ainda mais uma
Que é confidente de bruma
E prima da Primavera

Quase ninguém a conhece
Apenas quando anoitece
Toda ela ela se alumia
E no entanto essa luz
Ganha a forma de uma cruz
Atravez da gelosía

Entre a Varandas são tantas
Há pecadoras e santas
Umas ricas outras pobres
Mas não sei se há uma Raínha
Nem direi qual é a minha
A ver se tu a descobres

MADALENA FERRAZ

A VIDA QUE NÃO TE DEI (



A VIDA QUE NÃO TE DEI

É quase sombra perdida
A promessa arrependida
Que a tua boca não deu
O meu coração resiste
Na certeza de ser triste
Mais triste porque sofreu

Saudades de uma...saudade
Saudades de outra verdade
Feita da mesma ilusão
Do fogo que não aquece
De uma verdade que esquece
E morre no coração

Os beijos que não se deram
Braços que não se estenderam
Lágrimas que eu não chorei
Nas horas...da tua ausência
Ando a pedir clemência
À vida...que te não dei

CELESTE RODRIGUES

MEUS OLHOS (António Botto/José Joaquim Cavalheiro Jnr)



MEUS OLHOS

Meus olhos que por alguém
Deram lágrimas sem fim
Já não choram por ninguém
Basta que chorem por mim

Arrependidos e olhando
A vida como ela é
Meus olhos vão conquistando
Mais fadiga e menos fé

Sempre cheios de amargura
Mas se a vida é mesmo assim
Chorar alguém, que loucura
Basta que chorem por mim

LENITA GENTIL

MALDIÇÃO (Armando Vieira Pinto / Alfredo Duarte)



MALDIÇÃO

Que destino, ou maldição
Manda em nós, meu coração?
Um do outro assim perdido;
Somos dois gritos calados
Dois fados desencontrados
Dois amantes desunidos

Por ti sofro e vou morrendo
Não te encontro, nem me entendo
Sou feliz e desgraçada;
Que sina a tua, meu peito
Que nunca estás satisfeito
Que dás tudo... e não tens nada

Na gelada solidão
Que tu me dás coração
Não há vida nem há morte
É lucidez, desatino
De ler no próprio destino
Sem poder mudar-lhe a sorte

MARIA ALICE

CASTIGO DE DEUS (Frederico de Brito)



CASTIGO DE DEUS

Pecados, pecados e os dias passados
De tantos pecados de amor o que é que nos resta?
Se a vida é o fruto de tantos pecados
Sem termos pecados a vida não presta

Eu sei que pequei, eu sei, mas ninguém me diga
Que a vida nos vem por bem, que Deus não castiga;
Castigo de Deus p'los pecados meus
Pedi-te uma esmola, Deus deu-me um castigo;
Porque me disseste que fosse com Deus
Que fosse com Deus
E ao fim combinamos que eu fosse contigo

Pecados, pecados Dos dias passados
Sem ter uma esperança sequer, sem ter um carinho
Já não me entendia com tantos pecados
E um dia esqueci-me de alguns p'lo caminho

Não sei se os remi, não sei, a paixão cegou-me
Pagar o que fiz não quis, e Deus castigou-me;
Castigo de Deus p'los pecados meus
Pedi-te uma esmola, Deus deu-me um castigo;
Porque me disseste que fosse com Deus
Que fosse com Deus
E ao fim combinamos que eu fosse contigo

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

MARIA ARMANDA

MÃE SOLTEIRA (Ary dos Santos / Nuno Nazareth Fernandes)



MÃE SOLTEIRA

Tive um filho que era teu, mas quando me abandonaste
O filho ficou só meu, fruto apenas duma haste
Por ele passei as passas que ninguém há-de passar
Andei ruas, corri praças, e o meu filho por criar

Lá porque sou mãe solteira não me atirem o desdém
Amei de muita maneira, com amor de pai também
Fui operária do meu corpo, mulher homem a lutar
Eu não quis um filho morto, e o meu filho sabe andar

Sabe andar de pés no chão
Com o ar de quem perdoa
A um pai que disse não
Porque o não já não magoa;
A mulher que eu soube ser
Foi pelo filho que tive
E agora, o que acontecer
É porque o meu filho vive

Se tu hoje queres voltar sou eu que digo que não
Eu também lhe soube dar a força que os homens dão
Mãe solteira, mas inteira, mulher que soube parir
Tu não estás á minha beira, e o meu filho sabe rir

GONÇALO SALGUEIRO

ALMA MINHA GENTIL (Luís Vaz de Camões / Alain Oulman)



ALMA MINHA GENTIL

Alma minha gentil, que te partiste
Tão cedo desta vida descontente
Repousa lá no céu eternamente
E viva eu cá na terra sempre triste

Se lá no assento etéreo, onde subiste
Memória desta vida se consente
Não te esqueças daquele amor ardente
Que já nos olhos meus tão puro viste

E se vires que pode merecer-te
Alguma coisa a dor que me ficou
Da mágoa, sem remédio, de perder-te

Roga a Deus, que teus anos encurtou
Que tão cedo de cá me leve a ver-te
Quão cedo de meus olhos te levou

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

NECA RAFAEL

JOÃO PEREIRA TINOCO "HUMOR" (José Rodrigues dos Santos / Miguel Ramos)



JOÃO PEREIRA TINOCO

João Pereira Tinoco
Abastado lavrador;
Tinha um filho dorminhoco
Brutamontes e bacoco
Mas fez o rapaz doutor

Mal se acabou de formar
Foi chamado a um parentesco
E acabou de o matar
Porque o viu a suar
E receitou-lhe um refresco

Ora veja bem o que ele fez
A um outro que o consultou
Mandou dizer trinta e três
E o homem disse tanta vez
Trinta e três, e rebentou

A mulher do Barnabé
Estava no leito a chorar
P'ra dar á luz um bebé
Mandou-a tomar rapé
E teve o filho a espirrar

Um colega da academia
Que também saiu doutor
Mete ao Tinoco a mania
De ser pescador de enguia
E ele então foi pescador

Tal mania lhe meteu
Que depois de ir ver um doente
Foi á pesca, adormeceu
Caiu á água, morreu
Senão matava mais gente

JOANA BAETA

EU ANTES CANTAVA OU (EU DANTES CANTAVA) (João Nobre)



EU ANTES CANTAVA OU (EU DANTES CANTAVA)

Já vivi por te amar
Por te amar, já vivi
Chego mesmo a pasmar desse amor que senti
Nem consigo encontrar
A paixão que voou
Talvez ande p'lo ar porque o vento a levou

Eu dantes cantava da aurora ao sol-pôr
Confesso que amava
Gostava, gostava... gostava do teu amor
Mais tarde o teu rosto p'ra sempre o esqueci
E agora não gosto
Não gosto, não gosto... não gosto de ti

Este ideal todo ideal
Esta dor que faz dor
Só o mal que faz mal quando o amor é amor
Diz que dói, já não dói
Tinha fé, foi-se a fé
Como foi que isto foi, é que o amor é como é

Eu dantes cantava da aurora ao sol-pôr
Confesso que amava
Gostava, gostava... gostava do teu amor
Mais tarde o teu rosto p'ra sempre o esqueci
E agora não gosto
Não gosto, não gosto... não gosto de ti

domingo, 17 de janeiro de 2010

MANUELA CAVACO

AVÉ MARIA FADISTA (Gabriel de Oliveira/Francisco Viana)



AVÉ MARIA FADISTA

Ave Maria sagrada
Cheia de graça divina
Oração tão pequenina
De uma beleza elevada

Nosso Senhor é convosco
Bendita sois vós, Maria
Nasceu vosso filho, um dia
Num palheiro humilde e tosco

Entre as mulheres bendita
Bendito é o fruto, a luz
Do vosso ventre, Jesus
De amor e graça infinita

Santa Maria das dores
Mãe de Deus, se for pecado
Tocar e cantar o fado
Rogai por nós pecadores

Nenhum fadista tem sorte
Rogai por nós Virgem Mãe
Agora, sempre e também
Na hora da nossa morte

sábado, 16 de janeiro de 2010

JOÃO BRAGA

ACABOU O ARRAIAL (João Ferreira Rosa)



ACABOU O ARRAIAL

Acabou o arraial
Folhas e bandeiras já sem cor
Tal qual aquele dia em que chegaste
Tal qual aquele dia, meu amor

Para quê cantar
Se longe já não ouves
O nosso canto ainda está na fonte
O nosso sonho nas estrelas do horizonte

Ainda nasce a lua dos moinhos
Ainda nasce o dia sobre os montes
Ainda vejo a curva do caminho
Ainda o mesmo som, as mesmas fontes

Sabes meu amor, não estou sozinho
Pelas salas do silêncio em que te escuto
Abro a janela, ainda cheira a rosmaninho
Vejo-me ao espelho, ainda vejo luto

PAULO BRAGANÇA

CANSAÇO (Joaquim Campos / Luís Macedo)



CANSAÇO

Por de trás do espelho quem está
De olhos fixados nos meus?
Alguém que passou por cá
E seguiu ao deus-dará
Deixando os olhos nos meus.

Quem dorme na minha cama,
E tenta sonhar meus sonhos?
Alguém morreu nesta cama,
E lá de longe me chama
Misturada nos meus sonhos.

Tudo o que faço ou não faço,
Outros fizeram assim
Daí este meu cansaço
De sentir que quanto faço
Não é feito só por mim.

FAFÁ DE BELÉM

PROCURO E NÃO TE ENCONTRO (Neves e Sousa / António José / L. Lampreia)



PROCURO E NÃO TE ENCONTRO

Procuro e não te encontro
Não paro, nem volto atrás
Eu sei... dizem todos que é loucura
Eu andar á tua procura
Sabendo bem onde tu estás

Procuro e não te encontro
Procuro nem sei o quê
Só sei... que por vezes ficamos frente a frente
E ao ver-te ali, finalmente
Procuro mas não te encontro

Preferes a outra e queres
Que eu nunca vá ter contigo
Eu sei... tenho o destino marcado
E vou procurar-te ao passado
Para lembrar o amor antigo

Procuro e não te encontro
Procuro nem sei o quê
Só sei... que por vezes ficamos frente a frente
E ao ver-te ali, finalmente
Procuro mas não te encontro

BEATRIZ DA CONCEIÇÃO

SOU DO POVO COMO TU AMOR (Vasco Lima Couto/Miguel Ramos)



SOU DO POVO COMO TU AMOR

Sou tão do povo como tu amor
O mesmo desejar a maresia
O mesmo desprezar aquela cor
Que faz o nosso amor durante o dia

Sou tão do povo do que tu me falas
Quando tu te afastas e me dás um nome
Também me calo quando tu te calas
Também sofro o deserto desta fome

A tua angústia é tão igual á minha
No ar em que respiras e te encantas
Que a mesma voz em nós os dois caminha
E canto a mesma língua que tu cantas

LINDA LEONARDO

NA BOCA DE TODA A GENTE (



NA BOCA DE TODA A GENTE

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

LIANA

UM FADO ESTA NOITE (Ferrer Trindade / César D´Oliveira / Rogério Bracinha)



UM FADO ESTA NOITE

Anda deitar-te, fiz a cama de lavado
Cheira a alfazema o meu lençol alinhado;
Pus almofadas com fitas de cores
Colcha de chita com barra de flores
E á cabeceira tenho um Santo alumiado

Volta esta noite p'ra mim
Volta esta noite p'ra mim
Canto-te um fado no silêncio, se o quiseres
Mando um recado ao luar
Que se costuma deitar ao nosso lado
P'ra não vir hoje, se tu vieres

Pus o meu xaile p'ra nos servir de coberta
E um solitário, ao pé da janela aberta;
Pus duas rosas, que estão a atirar
Beijos vermelhos, sem boca p'ros dar
Sem o teu corpo minha noite está deserta

Volta esta noite p'ra mim
Volta esta noite p'ra mim
Canto-te um fado no silêncio, se o quiseres
Mando um recado ao luar
Que se costuma deitar ao nosso lado
P'ra não vir hoje, se tu vieres

TILLA MARIA

VAI LÁ FALAR (Laierth Neves / Amadeu Ramim)



VAI LÁ FALAR

Vai lá falar àquela mulher sem sorte
Que um dia perdeu o norte e continua perdida
Até vai dar uma palavra singela
De bondade, p'ra ver se ela volta a acreditar na vida

Vai lá falar àquele a quem chamam louco
Que pintou ainda há pouco mais um quadro de Lisboa
Vai dizer-lhe que ele é que tem razão
Com tintas do coração qualquer tela é sempre boa

Vai lá falar... põe o orgulho de lado
Não fiques contrariado, sorri seja p'ra quem for
Vai lá falar... aperta a mão de quem passa
Porque aonde houver desgraça, é preciso o nosso amor

Vai lá falar ao teu amigo de infância
Que por qualquer circunstância pede esmola p´ra viver
Anda, vai dar-lhe do teu pão e do teu vinho
Dá-lhe todo o teu carinho p'ra que deixe de sofrer

Vai lá falar àquela que já foi tua
E nunca mais se habitua a ter de viver sem ti
Vai-lhe dizer que vives arrependido
Por não teres compreendido a paixão que havia em si

Vai lá falar... põe o orgulho de lado
Não fiques contrariado, sorri seja p'ra quem for
Vai lá falar... aperta a mão de quem passa
Porque aonde houver desgraça, é preciso o nosso amor

TÓNIA

O BRILHO DO TEU OLHAR



O BRILHO DO TEU OLHAR

Se cantar em tom magoado
E chorar cantando até
Faz que o canto seja fado
Nem sempre o fado assim é

Se choro cantando o fado
Nem sempre choro por mim
Trago no peito guardado
Um mundo que não tem fim

Cantar, cantar é saber
As dores que o mundo tem
Mas cantar é conhecer
As alegrias também

Ao fado dei minha voz
Meus sonhos minha vontade
Ao fado dei minha voz
E a minha liberdade

ARLINDO DE OLIVEIRA

MINHA MADRUGADA (José Guimarães/Resende Dias)



MINHA MADRUGADA

Foi na madrugada que um sonho encontrei
Foi na madrugada que um sonho perdi
Nas horas passadas no amor que inventei
Palavras caladas guardei para ti

Foi na madrugada á luz já velada
Que vi nos teus olhos não sei não sei quê
Nem beijos trocados nem mãos encontradas
Desejo sentido que a gente não vê

Nos silêncios vagos momentos vividos
São tudo e são nada, são raiva e loucura
Segredos guardados sossegos perdidos
Tudo é madrugada tudo é noite escura

Espero que o dia enfim amanheça
Transforme o desejo em realidade
Que a minha alegria enfim apareça
E eu prenda num beijo a nossa verdade

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

ANTÓNIO PINTO BASTOS

MESTRE ALENTEJANO (João Vasconcelos e Sá / Popular *fado corrido*)




MESTRE ALENTEJANO

Terra de grandes barrigas
Onde há tanta gente gorda
Ás sopas chamam açorda
E à açorda chamam-lhe migas;
Ás razões chamam cantigas
Milhaduras são gorjetas
Maleitas dizem maletas
Em vez de encostas, chapadas
Em vez de açoites, nalgadas
E as bolotas são boletas

Terra mole é atasquero
Ir embora é abalar
Deitar fora é aventar
Fita de coiro é apero;
Vaso com planta é cravero
Carpinteiro é abegão
E a choupana é cabanão
E às hortas chamam hortejos
Os cestos são cabanejos
E ao trigo chama-se pão!

No resto de Portugal
Ninguém diz palavras tais
As terras baixas são vais
Monte de feno é frascal;
Vestir bem, parece mal
Á aveia chamam cevada
Ao bofetão, orelhada
Alcofa grande é gorpelha
Égua lazã é vermelha
Poldra ‘Isabel’ é melada

Quando um tipo está doente
Logo dizem que está morto
E a todo o vau chamam porto
Chamam gajo a toda a gente;
Vestir safões é corrente
Por acaso é por atrego
As saco chamam talego
E até nas classes mais ricas
Ser janota é ser maricas
Ser beirão é ser galego

Os porcos medem-se às varas
E o peixe vende-se aos quilos
E a gente pasma de ouvi-los
Usar maneiras tão raras;
Chamam relvas às cearas
Ás vezes, não sei porquê
E tratam por vomecê
Pessoas a quem venero
Não quero, diz-se nã quero
Eu não sei’ diz-se *ê nã sê*

IRENE COELHO

CORAÇÃO PORTUGUÊS (



CORAÇÃO PORTUGUÊS

Fadistas de Portugal
Queridos irmãos de além-mar
Peço não me levem a mal
Mas também quero cantar

Sei que não tenho talento
P’ra cantar ao vosso lado
Mas sobra-me o sentimento
E o amor que tenho pelo fado

Desde pequena que sinto
O fado em meu coração
E Deus sabe que não minto
Se o tornei minha oração

Não sei como nem porquê
O fado me conquistou
Que por muito que eu lhe dê
Sinto que nada lhe dou

Eu amo-o de tal maneira
Que penso que deus me fez
Corpo de brasileira
Com coração português

XAVIER DE OLIVEIRA

ROSA MOLEIRA (



ROSA MOLEIRA

Olha a Rosa Moleirinha
Como anda arreliada
A dizer que anda fartinha
De andar sempre enfarinhada

Além de ir para a cidade
Saber falar estrangeiro
Anda cheia de vaidade
Já não quer amor moleiro

Rosa vaidosa sê cuidadosa
Nas escadas de certos caminhos
Toma atenção que essas não são
As escadas dos moinhos

Diz que as velas de moinho
Já não têm novidade
Antes quer o remoinho
Que há nas velas da cidade

E nas beiras do caminho
Passa horas a sonhar
Enquanto as mós do moinho
Continuam a girar

Rosa vaidosa sê cuidadosa
Nas escadas de certos caminhos
Toma atenção que essas não são
As escadas dos moinhos

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

JOAQUIM PIMENTEL

DEIXA-ME SÓ (



DEIXA-ME SÓ

Deixa-me só
Não tentes voltar p’ra mim
Deixa-me só
É melhor viver assim
Deixa-me só
Na solidão do meu quarto
De perdoar
Meu coração já está farto
Deixa-me só
Para quê vir recordar
Já fui teu
Já vivi p’ra te amar
Triste lembrança
Que recordo ou que sofri
Deixa-me só
Não quero voltar p’ra ti
Não é amor
Que te trás de volta assim
É o despeito
De não mandares mais em mim
Porque hoje sou
Dono da minha vontade
Porque estou livre
Longe da tua vaidade
Deixa-me só
Não fixes os olhos meus
Quero a coragem
Para poder dizer-te adeus
Deixa-me só
O que fui não volto a ser
Estou tão cansado
Quero dormir e esquecer

MARIA DA PIEDADE

FADO CANSAÇO



FADO CANSAÇO

Por trás do espelho quem está
De olhos fixados nos meus
Alguém que passou por cá
E seguiu ao Deus dará
Deixando os olhos nos meus

Quem dorme na minha cama
E tenta sonhar meus sonhos
Alguém morreu nesta cama
E lá de longe me chama
Misturada nos meus sonhos

Tudo o que faço ou não faço
Outros fizeram assim
Daí este meu cansaço
De sentir que quanto faço
Não é feito só por mim

NATÉRCIA MARIA

O QUE O FADO QUER (Fernando Pinto Ribeiro/Jorge Fontes)



O QUE O FADO QUER

O fado quer o amor
De uma mulher chamada farra
O fado quer petiscar e beber
E abraçar uma guitarra
Senão lhe dão o que quer
Fica zangado e faz banzé
O fado quer ser amado
Quer ser cantado
Assim com a ralé

O fado briga
Se não lhe dão o que pede
O fado intriga
Quem não petisca nem bebe
Quem o quiser
Amar, cantar e sentir
Tem de lhe dar o que ele quer
Tem de servir

O fado quer dominar
Meu coração que é rufião
Quer me ensinar a cantar minha dor
E quer ser de mim meu senhor
Se não lhe dou atenção
Enquanto canto o fado espanto
O fado fica zangado
Fugindo assim de mim seu encanto

FERNANDO FARINHA

BELOS TEMPOS (Fernando Farinha / Júlio de Sousa)



BELOS TEMPOS

Belos tempos que eu vivi
Com oito anos de idade
Quando no fado apareci
Ambição, sonho querido
Em que eu fiz desta canção
O meu brinquedo preferido

De muito novo assentei praça no fado
E com as praças antigas, aprendi a ser soldado
Passei a pronto, fiz do fado a minha luta
E agora tenho saudade de quando eu era recruta

Belos tempos, quem me dera
Voltar á velha unidade
Do retiro da Severa
Ter ainda o carinho
Desse grande comandante
Que se chamou Armandinho

Ver novamente cantadores e cantadeiras
Naquele grupo valente que deu brado nas fileiras
E ouvir também alguém chamar na parada
Pelo Miúdo da Bica, e eu responder á chamada

CARLOS RAMOS

SEMPRE QUE LISBOA CANTA (Carlos Rocha / Aníbal Nazaré)



SEMPRE QUE LISBOA CANTA

Lisboa cidade amiga
Que és meu berço de embalar
Ensina-me uma cantiga
Das que tu sabes cantar

Uma cantiga singela
Daquelas de enfeitiçar
P'ra eu cantar á janela
Quando o meu amor passar

Sempre que Lisboa canta
Não sei se canta, não sei se reza
A sua voz com carinho canta baixinho sua tristeza
Sempre que Lisboa canta
Agente encanta sua beleza
Pois quando Lisboa canta, canta o fado conserteza

Eu quero dar-te um castigo
Por tanto te ter amado
Quero que cantes comigo
Os versos do mesmo fado

Quero que Lisboa guarde
Tantos fados que cantei
Para cantar-me mais tarde
Os fados que lhe ensinei

Sempre que Lisboa canta
Não sei se canta, não sei se reza
A sua voz com carinho canta baixinho sua tristeza
Sempre que Lisboa canta
Agente encanta sua beleza
Pois quando Lisboa canta, canta o fado conserteza

Sempre que Lisboa canta
Não sei se canta, não sei se reza
A sua voz com carinho canta baixinho sua tristeza
Sempre que Lisboa canta
Agente encanta sua beleza
Pois quando Lisboa canta, canta o fado conserteza

KÁTIA GUERREIRO

EU QUERIA CANTAR-TE UM FADO (Guilherme Pereira Rosa / Franklim Godinho)



EU QUERIA CANTAR-TE UM FADO

Eu queria cantar-te um fado
Que toda a gente ao ouvi-lo
Visse que o fado era meu;
Fado estranho e magoado
Mas que pudesses senti-lo
Tão na alma, como eu

E seria tão diferente
Que ao ouvi-lo, toda a gente
Soubesse quem o cantava
Quem o escreveu, pouco importa
Que eu andei de porta em porta
Só p'ra ver se te encontrava

Eu hei-de pôr nalguns versos
O fado que há nos teus olhos
O fado da tua voz
Nossos fados, são diversos
Tu tens um fado, eu tenho outro
Triste fado temos nós

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

ILDA DE CASTRO

LISBOA É PORTUGUESA (



LISBOA É PORTUGUESA

Lisboa é simplesmente um fado
Poema feito no gosto de amor
Um cacho de uvas no seio guardado
E um cheiro bonito lhe prova o sabor
Que a morte estoure o meu peito magoado
Se vê-la de braço com outro senhor

Lisboa não é Francesa
Lisboa não é Inglesa
Lisboa é Portuguesa, Sim Senhor
E peçam licença ao Tejo
Se querem levar um beijo
Da nossa princesinha do amor

Os meus ciúmes de ti, são tantos
Lisboa dos Lusitanos Princesa
Não cries novos estranhos, encantos
És Portuguesa

Lisboa não é Francesa
Lisboa não é Inglesa
Lisboa é Portuguesa sim Senhor
E peçam licença ao Tejo
Se querem levar um beijo
Da nossa princesinha do amor

MARIZA

FEIRA DE CASTRO (Paulo Abreu Lima / Rui Veloso)



FEIRA DE CASTRO

Eu fui á Feira de Castro
P'ra comprar um par de meias
Vim de lá com umas chanatas
E dois brincos nas orelhas

As minhas ricas tamancas
Pediam traje a rigor
Vestido curto e decote
Por vias deste calor

Quem vai á Feira de Castro
E se apronta tão bonito
Não pode acabar a feira
Sem entrar no bailarico;
Sem entrar no bailarico
A modos de bailação
Ai que me deu o fanico
Nos braços dum manganão

Vai acima, vai abaixo
Mais beijinho mais bejeca
E lá se foi o capacho
Deixando o velho careca

Todo o testo quer um tacho
Mas como recordação
Apenas trouxe o capacho
Que iludiu meu coração

Quem vai á Feira de Castro
E se apronta tão bonito
Não pode acabar a feira
Sem entrar no bailarico;
Sem entrar no bailarico
A modos de bailação
Ai que me deu o fanico
Nos braços dum manganão

Eu fui á Feira de Castro
Eu vim da Feira de Castro
Eu fui á Feira de Castro
Eu vim da Feira de Castro
Eu fui á Feira de Castro
E jurei para mais não

LUCÍLIA DO CARMO

A HISTÓRIA DO NOSSO FADO (Linhares Barbosa/Jaime Santos)



A HISTÓRIA DO NOSSO FADO

Dizia-se em poucas linhas
A história do nosso fado
Tuas vontades as minhas
E pronto, tudo acabado

Olhamo-nos certo dia
Depois um beijo trocado
É assim que principia
A história do nosso fado

Fomos na mesma paixão
Como duas avezinhas
Minha voz tua atracção
Tuas vontades as minhas

Passa tempo e surge o brilho
De outra estrela ao nosso lado
A vida do nosso filho
E pronto, tudo acabado

CARLOS RAMOS

CANTO O FADO (João Nobre)



CANTO O FADO

Há, para o sofrimento, um bom remédio afinal
É cantar, e no momento, ninguém se lembra do mal

Não custa mesmo nada, tentem fazer como eu
Uma guitarra afinada, uma voz bem timbrada e tudo esqueceu

Quando a tristeza me invade... canto o fado
Se me atormenta a saudade... canto o fado
Haja ciúme á vontade... canto o fado
Por uma esperança perdida
Não passo na vida por um mau bocado
Se acaso a sorte o esqueceu
É fazer como eu, deixo andar... canto o fado

Não é que não me interesse, por quem á dor não resiste
Mas há gente que parece, que gosta até de andar triste

Tem sempre um ar fatal, a que ninguém o obriga
Pois neste mundo, afinal, vendo bem, nada vale mais do que uma cantiga

Quando a tristeza me invade... canto o fado
Se me atormenta a saudade... canto o fado
Haja ciúme á vontade... canto o fado
Por uma esperança perdida
Não passo na vida por um mau bocado
Se acaso a sorte o esqueceu
É fazer como eu, deixo andar... canto o fado

SÉRGIO GONÇALVES

BOA NOITE SOLIDÃO (Jorge Fernando / Carlos da Maia)



BOA NOITE SOLIDÃO

Boa-noite solidão
Vi entrar pela janela
O teu corpo de negrura;
Quero dar-te a minha mão
Como a chama de uma vela
Dá a mão, á noite escura

Os teus dedos, solidão
Despenteiam a saudade
Que ficou no lugar dela
Espalhas saudades no chão
E contra a minha vontade
Lembras-me a vida com ela

Só tu sabes, solidão
A angústia que traz a dor
Quando o amor, a gente nega
Como quem perde a noção
Afogando o nosso amor
No orgulho que nos cega

Com o coração na mão
Vou pedir-te, sem fingir
Que não me fales mais dela
Boa-noite solidão
Agora eu quero dormir
Porque vou sonhar com ela

FERNANDA MARIA

GOSTO DE TI (Maria Lavínia/Alberto Simões Costa)



GOSTO DE TI

Gosto de ti porque gosto
A razão não sei dizer
Como tu de mim não gostas
Eu canto para te esquecer

No amor não há razões
Não há razões para gostar
Eu sei lá porque é que gosto
Quando me estás a beijar

Se me fitas bem nos olhos
Ainda mais gosto de ti
Gosto de ti porque gosto
Gostei logo que te vi

Se me perguntam nem sei
A razão deste meu querer
Gosto de ti porque gosto
É tudo o que sei dizer

CARLOS RAMOS

NOITE DE NATAL (



NOITE DE NATAL

Noite de natal e um rapazinho
Com um retrato na mão cheio de fé
Vai a medo para o pôr no sapatinho
Que antes a avó o pôs na chaminé

Chorando diz assim esse bambino
Tu que nesta noite fazes bem
Vou pedir-te um favor lindo menino
Que cuides lá no céu de minha mãe

Por isso aqui te deixo o seu retrato
Pra que a possas encontrar no céu
Se queres leva também o meu sapato
E diz-lhe que não esqueço o rosto seu

É quase meia noite hora de luz
Tu que aos meninos prendas trazer vens
A melhor prenda pra mim meu bom Jesus
Era dares-me a mãezinha que lá tens

ALEXANDRA

A LENDA DAS ALGAS (Laierth Neves / Jaime Mendes)



A LENDA DAS ALGAS

O mar espreguiçando-se na areia
Trouxe no seu espreguiçar
Algas envoltas em espuma
E quando à noite veio a maré cheia
Voltaram todas ao mar
Mas na praia ficou uma

Conta a lenda, que essa alga pequenina
Que o destino ali deixou
Tomou forma e tomou vida
Quando um e pescador por ali passou
Encontrou uma menina
Sobre a areia, adormecida

E nessas notas doloridas e plangentes
Talvez não saiba quem é que está a escutar
Talvez um búzio a soluçar notas dolentes
Ou talvez seja eu sozinha a soluçar

CIDÁLIA MOREIRA

QUANDO CONTIGO VIVI (Agostinho Neves / Casimiro Ramos)



QUANDO CONTIGO VIVI

Lembro aquela despedida
Ao afastar-me de ti
Fugindo da tua vida
Quando contigo vivi

Já tanto tempo passou
Da minha vida perdida
A saudade a mim chegou
Lembro aquela despedida

Saudades quem as não tem
Lembro as penas que sofri
Como lembro ainda bem
Ao afastar-me de ti

O teu amor eu não quis
Falsa paixão despedida
Em boa hora eu o fiz
Fugindo da tua vida

P’ra te dizer a verdade
Se acaso passo por ti
Eu recordo com saudade
Quando contigo vivi

FLORINDA MARIA

CADA DIA QUE PASSA (



CADA DIA QUE PASSA

Cada dia que passa sem te ver
Sem nada ter contigo de comum
São vinte e quatro horas a sofrer
Resta saber se para cada um

Cada dia que passa é mais um dia
Que não quero somar aos dias meus
São vinte e quatro horas de agonia
Resta saber como passas os teus

Cada dia que passa sem lembrar
Saber quando esta ausência terá fim
São vinte e quatro horas a rezar
Resta saber se tu rezas por mim

NUNO AGUIAR

ROUXINOL DA RIBEIRA (Januário Pereira/Pedro Rodrigues)



ROUXINOL DA RIBEIRA

Mal o dia amanhecendo
Vai a Ribeira se enchendo
De gritos e de pregões
E o peixe desembarcado
É na lota apregoado
No meio de palavrões

Há muito que ali vendia
Toda a gente a conhecia
A Gracinda vendedeira
Dava gosto ouvir cantar
E eu sempre lhe ouvi chamar
O Rouxinol da Ribeira

Sua filha ainda garota
Tão traquina tão marota
A pequena Manuela
Certo dia se afastou
E junto ao Tejo brincou
Que ninguém mais soube dela

Hoje de negro vestida
Chorando a filha perdida
Dor sincera e verdadeira
Ao mercado já tornou
Mas a cantar não voltou
O Rouxinol da Ribeira

NATALINA BIZARRO

TIA MACHETA (João Linhares Barbosa / Manuel Soares)



TIA MACHETA

O amante não aparecer
Triste Severa
Sempre fiel
Chamou a tia Macheta
Velha alcoveta
P’ra saber dele

A velha pegou nas cartas
Sebentas fartas
De mãos tão sujas
E antes de as embaralhar
Pôs-se a grasnar como as corujas

Ele não vem, minha filha
Di-lo a espadilha
Há maus agoiros
Há também uma viagem
Um personagem
A dama d’oiros

Esse conde é o meu fraco
Tome um pataco
Tia Macheta
A velha guardou as cartas
De sebo fartas
Sob a roupeta

Caíram três badaladas
Fortes, pesadas
Três irmãs gémeas
Cá fora nos portais frios
Cantam vadios
Feias blasfemas

O fidalgo não voltou
Severa o esperou
Até ser dia
Desde essa noite é que existe
O fado triste
Da Mouraria

MARIA DA NAZARÉ

SAUDADES TENHO-AS AOS MONTES (



SAUDADES TENHO-AS AOS MONTES

Não me digas que tenho medo
O amor é ousadia
Da noite o teu sorriso
Faço a aurora do meu dia

Saudades tenho-as aos montes
Não de ti mas de outra vida
Meus olhos são duas fontes
Chorando a paz prometida

Vejo-me só e estremeço
Sem passado não se vive
Só me restam as saudades
De um passado que não tive

Junto a ti não fui feliz
Longe de ti também não
Mas que triste é ter de andar
Às ordens do coração

TERESA TAROUCA

MEU BERGANTIM (



MEU BERGANTIM

Meu bergantim foi-se ao mar
Foi-se ao mar e não voltou
Que numa praia distante
Meu bergantim se afundou

Levava mastros pintados
Bandeiras de todo o mundo
E soldadinhos de chumbo
Na coberta perfilados

Meu bergantim onde vais
Que te não posso avistar
Meu bergantim, meu bergantim
Quero partir rumo ao mar

Foi-se ao mar meu bergantim
Foi-se ao mar nunca voltou
E por sete luas cheias
No areal se chorou

FERNANDA MARIA

SARDINHEIRAS (Linhares Barbosa / Fernando Freitas)



SARDINHEIRAS

Um dia ele seguiu-me
Na rua onde eu morava
Cumprimentou-me e fugiu-me
E ao outro dia lá estava

Atirei-lhe da trapeira
Da minha água furtada
Uma rubra sardinheira
Que se tornou mais corada

Depois, nunca mais o vi
Nem do seu olhar a chama
Passou tempo e descobri
Que ele morava na Alfama

Uma noite, sem pensar
Pus o meu xaile, o meu lenço
E fui atrás desse olhar
Que deixara o meu suspenso

Hoje moro onde ele mora
Hoje durmo onde ele dorme
E há sol por dentro e por fora
Da minha alegria enorme

FERNANDA MARIA

ZANGUEI-ME COM MEU AMOR (João Linhares Barbosa/ Popular *fado mouraria)



ZANGUEI-ME COM MEU AMOR

Zanguei-me com meu amor
Não o vi em todo o dia
Á noite cantei melhor
O fado da Mouraria

O sopro duma saudade
Vinha beijar-me hora a hora
P’ra ficar mais à vontade
Mandei a saudade embora

De manhã, arrependida
Lembrei-o, pus-me a chorar
Quem perde um amor na vida
Jamais devia cantar

Quando regressou ao ninho
Ele que mal assobia
Vinha a assobiar baixinho
O fado da Mouraria

MICAELA VAZ

MARIA LISBOA (David Mourão Ferreira / Alain Oulman)



MARIA LISBOA

É varina, usa chinela
Tem movimentos de gata
Na canastra, a caravela
No coração, a fragata

Em vez de corvos no xaile
Gaivotas vêm poisar
Quando o vento a leva ao baile
Baila no baile com o mar

É de conchas o vestido
Tem algas na cabeleira
E nas veias, o latido
Dum motor duma traineira

Vende sonho e maresia
Tempestades apregoa
Seu nome próprio, Maria
Seu apelido, Lisboa

Vende sonho e maresia
Tempestades apregoa
Seu nome próprio, Maria
Seu apelido, Lisboa

JOSÉ PRAGANA

CAMPINO (Fernando Santos / Raúl Ferrão)



CAMPINO

Mal canta o galo, e ainda o sol não é nado
Monto a cavalo e vou p’ra junto do gado
E os animais, essas tais feras bravias
Com os olhos tão leais parecem dar-me os bons dias

Pampilho ao alto
Corpo firme no selim
Nunca sinto um sobressalto se um toiro investe p’ra mim
Já disse um homem
Que foi toureiro afamado
Mais marradas dá fome do que um toiro tresmalhado

Quando anoitece e o gado dorme p’lo chão
Rezo uma prece por alma dos que lá estão
P’ra que as searas cresçam livres da tormenta
E o mal não mate as piaras, nem os novilhos de tenta

Mas quando as cheias destroçam pastos e trigo
Há miséria nas aldeias e eu vou pensando comigo
Já disse um homem que foi toureiro afamado
Mais marradas dá fome do que um toiro tresmalhado

GABINO FERREIRA

PARTIDA, AUSÊNCIA E CHEGADA (Carlos Conde / Pedro Rodrigues)



PARTIDA, AUSÊNCIA E CHEGADA

Quem diz adeus põe na vida
Três frases de alta pungência
Onde a alma é retratada;
A tristeza da partida
A saudade duma ausência
E a alegria da chegada

Partida - alma a sofrer
Um desejo de voltar
Um abraço, um beijo santo
Um adeus até mais ver
Um lenço branco a acenar
E uns olhos rasos de pranto

Ausência – mil ansiedades
Vida feita de desejos
Desejos feitos de esperanças
Uma carta com saudades
Menos palavras, mais beijos
Menos letras, mais lembranças

Chegada – ardor, sedução
Lábios em festa, trocando
Beijos de intensa harmonia
E a par de tanta emoção
Quatro lágrimas bailando
Doidas de tanta alegria

A saudade nunca finda
É jóia rara gravada
No livro aberto da vida
Feliz daquele que ainda
Pode encontrar na chegada
Quem deixou na despedida

CIDÁLIA MARIA

DE LOUCURA EM LOUCURA( Joao Dias / Alfredo Marceneiro)



DE LOUCURA EM LOUCURA

Vou de loucura em loucura
Como quem anda á procura
De uma constante ilusão
Velho sonho em que persigo
Uma voz um rosto amigo
Perdido na multidão

Vou de loucura em loucura
Que o próprio vento murmura
Promessas de um bem ausente
Estranha alma é a minha
Que se sente tão sozinha
Entre tanta e tanta gente

Vou de loucura em loucura
Como quem anda á procura
De uma alma fugidia
Olhos perdidos nos céus
Eu canto pedindo a Deus
Pra me encontrar qualquer dia

FRUTUOSO FRANÇA

O BAIRRO E O POETA (Carlos Conde/Miguel Ramos)



O BAIRRO E O POETA

A Natália essa fadista
De voz terna saudosista
Toda encanto e melodia
Foi a melhor companheira
Que o Gabriel de Oliveira
Teve ali na Mouraria

Ele fazia-lhe os versos
Esses poemas dispersos
Com saber a tradição
Que ela aprendia a cantar
Naquele primeiro andar
Da rua do Capelão

Em volta imagens antigas
De fadistas e cantigas
Numa graça colorida
Tudo ali sabia a fado
Desde o verso bem rimado
À tese mais escolhida

Na viela escura e triste
Onde agora só existe
A saudade d’uma grei
Aquela velha casinha
Era um trono de rainha
Um bairro onde o fado é rei

Foi nesse bairro fadista
Que o poeta mais bairrista
O nome grande marcou
Porém tudo se perdeu
Porque o Gabriel morreu
E a Mouraria acabou

domingo, 10 de janeiro de 2010

VITORINO

FADO DA PROSTITUTA (António Lobo Antunes / Victorino)



FADO DA PROSTITUTA

Minha nau com dois corvinhos
Meu mosteiro à beira mar
Acordeão de ceguinhos
Agulha de marear

Minha promessa de cera
Meu poente sobre o rio
Oh minha folhinha de hera
Pesponto do casario

Minha Santa Filomena
Meu fio de oiro quebrado
Minha rolinha de empena
Afago de namorado

Minha andorinha de loiça
Pendurada da janela
Oh meu sorriso de moça
Minha lágrima de vela

Minha nau com dois corvinhos
Meu mosteiro à beira mar
Acordeão de ceguinhos
Agulha de marear

Minha promessa de cera
Meu poente sobre o rio
Oh minha folhinha de hera
Pesponto do casario

Minha Santa Filomena
Meu fio de oiro quebrado
Minha rolinha de empena
Afago de namorado

Minha andorinha de loiça
Pendurada da janela
Oh meu sorriso de moça
Minha lágrima de vela

Meus seiinhos de mulher
Cornichos de Satanás
Se me derem a escolher
Vida ou morte tanto faz

RAÚL PEREIRA

ZÉ GRANDE (Carlos Conde / Raul Pereira)



ZÉ GRANDE

O Zé grande, um cocheiro de rotina
Muito embora vergado pela idade
Falou-me, agora mesmo, ali à esquina
Da Travessa do Poço da Cidade

Fiz praça, no Rossio, na Horta Seca
E andei, noites inteiras, com rambóias
Corri os arrabaldes, Seca e Meca
Com as melhores parelhas e tipóias

Levei muitos brasões fora de portas
Fadistas à abertura do bom vinho
Cantoras do S. Carlos, para as hortas
E coristas, p’ras ceias do Charquinho

Conduzi o Ginguinha e o Janota
Ao Zé da Basalisa, muita vez
Levei damas da alta, à Porcalhota
E ciganas, à Feira das Mercês

Depois de rebuscar algum dinheiro
Resolveu afogar uma saudade
E pediu três do lote ao carvoeiro
Da Travessa do Poço da Cidade

ALFREDO DUARTE JR. (filho de Alfredo marceneiro)

VARINAS NOIVAS DO MAR (Carlos Conde/Acácio Rocha)



VARINAS NOIVAS DO MAR

MARIA AMÉLIA PROENÇA

EU QUERO (Carlos Conde/Afredo Mendes)



EU QUERO

Eu quero ir esta noite para a rambóia
Cantar bater o fado andar nas hortas
Fazer uma corrida de tipóias
E quedar-me a cear fora de portas

Eu quero ir esta noite p’ra a estúrdia
Viver uma noitada em doce afã
Com cenas de ciúme e de balbúrdia
Até ás quatro ou cinco da manha

Eu quero ir esta noite para as adegas
Cantar e sentir o fado em desvario
Onde é que estão p’rai os meus colegas
Que queiram vir cantar ao desafio

Eu quero p’ra abancar mesa de pinho
Loiça de tosco e barro cajaroes
Canecas transbordantes de bom vinho
E montes coroados de ovações

Quero encher um retiro desse fado
Que um dia me inspirou e que eu senti
Viver toda a boémia de um passado
Passado que ainda sinto e nunca vi

CELESTE RODRIGUES

OUVI DIZER QUE ME ESQUECESTE (Jorge Fernando)



OUVI DIZER QUE ME ESQUECESTE

Guitarra triste...
Ouvi dizer que me esqueceste
No teu gemido tão magoado
Guitarra triste...
Perdi a vez e tu perdeste
O céu oculto onde anoitece e nasce o fado

O meu peito se apoquenta como se a alma atormentada
Entre as cordas vibrando se quisesse esconder
Fecho os olhos e triste sigo a voz amargurada
Que como eu está gritando toda a dor de viver

Guitarra triste...
Ouvi dizer que me esqueceste
No teu gemido tão magoado
Guitarra triste...
Perdi a vez e tu perdeste
O céu oculto onde anoitece e nasce o fado

Não vou querer repartir com mais ninguém a solidão
Escondida de mim no teu triste trinado
Mau traído amor calou-me a dor dessa traição
Foi por isso que, enfim... nunca mais cantei o fado

Guitarra triste...
Perdi a vez e tu perdeste
O céu oculto onde anoitece e nasce o fado

RAUL SOLNADO

FADO DAS ISCAS (



FADO DAS ISCAS

GONÇALO SALGUEIRO

VOZ DO ESCURO (Jorge Fernando / Custódio Castelo)



VOZ DO ESCURO

Eis que uma voz me encontrou e disse:
Vem que te espero, sózinha sou triste
Alegria em mim já não existe
Porque a solidão, á noite em mim persiste

Onde estás, bonita voz do escuro
Vinde, vinde, sois vós a quem procuro

Essa voz sois vós... quando o sonho em mim sustenta
Essa voz sois vós... triste sombra que o sol esquenta
Essa voz sois vós... água pura em negra fonte
Essa voz sois vós... lua rasa sobre o monte
Porque o tempo não pára e de mim se vai embora
Asa ferida que arde no meu peito, agora

Eis que um sinal minha noite abriu
Encheu de luz o meu quarto vazio
Roçou leve nos meus lábios e saíu
Sois a voz que em meu sonho surgiu

Onde estás, bonita voz do escuro
Vinde, vinde, sois vós a quem procuro

Essa voz sois vós... quando o sonho em mim sustenta
Essa voz sois vós... triste sombra que o sol esquenta
Essa voz sois vós... água pura em negra fonte
Essa voz sois vós... lua rasa sobre o monte
Porque o tempo não pára e de mim se vai embora
Asa ferida que arde no meu peito, agora

Essa voz sois vós... quando o sonho em mim sustenta
Essa voz sois vós... triste sombra que o sol esquenta
Essa voz sois vós... água pura em negra fonte
Essa voz sois vós... lua rasa sobre o monte
Porque o tempo não pára e de mim se vai embora
Asa ferida que arde no meu peito, agora

DULCE PONTES

FADO PORTUGUÊS (José Régio / Alain Oulman)



FADO PORTUGUÊS

O fado nasceu um dia
Quando o vento mal bulia
E o céu, o mar prolongava.
Na amurada de um veleiro
No peito dum marinheiro
Que estando triste cantava

Ai que lindeza tamanha
Meu chão, meu monte, meu vale
De folhas, flores, frutas de oiro...
Vê se vês terras de Espanha
Areias de Portugal
Olhar ceguinho de choro

Na boca de um marinheiro
Do frágil barco veleiro
Cantando a canção magoada
Diz o pungir dos desejos
Do lábio a queimar de beijos
Que beija o ar e mais nada

Mãe adeus, adeus Maria
Guarda bem no teu sentido
Que aqui te faço uma jura...
Que, ou te levo á sacristia
Ou foi Deus que foi servido
Dai-me no mar, sepultura

Ora eis que embora outro dia
Quando o vento nem bulia
E o céu o mar prolongava
À proa de outro veleiro
Velava outro marinheiro
Que estando triste cantava

Ai que lindeza tamanha
Meu chão, meu monte, meu vale
De folhas, flores, frutas de oiro...
Vê se vês terras de Espanha
Areias de Portugal
Olhar ceguinho de choro

Ai que lindeza tamanha
Meu chão, meu monte, meu vale
De folhas, flores, frutas de oiro...
Vê se vês terras de Espanha
Areias de Portugal
Olhar ceguinho de choro

CRISTINA BRANCO

TIVE UM CORAÇÃO PERDI-O (Amália / Fontes Rocha)



TIVE UM CORAÇÃO PERDI-O

Tive um coração, perdi-o
Ai quem mo dera encontrar
Preso no lodo dum rio
Ou afogado no mar

Quem me dera ir embora
Ir embora e não voltar
A morte que me namora
Já me pode vir buscar

Tive um coração, perdi-o
Ainda o hei-de encontrar
Preso no lodo dum rio
Ou afogado no mar