PEDIDOS DE OPINIÕES

Pedimos a quem nos visite!... que nos deixe a vossa opinião, utilizando o espaço das mensagens ou comentários, estamos empenhadas a 100% neste blogue.
Mas, gostávamos de saber se o mesmo, será do vosso agrado...Para nós é muito importante a vossa opinião.

Porque, este blogue, foi criado a pensar em si.
Um bem-haja para todos.....obrigado

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terça-feira, 16 de novembro de 2010

CELESTE RODRIGUES

JÁ ERA TARDE ( )



JÁ ERA TARDE

Já era tarde quando o fado conheci
E sem alarde quis falar-lhe da saudade
Mas na verdade pra me lembrar de ti
Do grande amor que perdi
Era tarde, muito tarde

Pedi ao fado que me desse outro caminho
Ficasse ele com a saudade
Que eu queria ficar sozinha
Ele respondeu que o pedido era escusado
Porque o fado e a saudade andavam de braço dado

CÉSAR MORGADO

SAUDADE ( F. Brito / C. Morgado )



SAUDADE

Melhor do que ninguém me pode dar
O afecto o amor que necessito
Tão linda esta palavra amar
Como o nome de mãe é tão bonito

O afecto é o símbolo da amizade
Feliz aquele ser que o encontrar
Mas tu oh minha mãe dás-me saudade
Saudades que só me fazem chorar

Tua ausência mãezinha me tortura
Já não há quem me possa acarinhar
Vem pra junto de mim que a vida é dura
Pois tu só tu me sabes confortar

Por tal razão desejo ardentemente
Beijar o teu rosto imaculado
Mãezinha vem não queiras estar ausente
Abraçar o teu sacrificado

Julgando estar por ti abandonado
Será cruel destino ou sorte minha
Vem confortar teu filho já cansado
Que só te quer a ti querida mãezinha

CUCA ROSETA

TORTURA ( Mário Pacheco / Florbela Espanca )



TORTURA

Tirar dentro do peito a emoção
A lúcida verdade o sentimento
E ser depois de vir do coração
Um punhado de cinzas esparso ao vento

Sonhar um verso de alto pensamento
E puro como um ritmo de oração
E ser depois de vir do coração
O pó o nada o sonho dum momento


São assim ocos rudes os meus versos
Rimas perdidas vendavais dispersos
Com que eu iludo outros com que minto

Quem me dera encontrar o verso puro
O verso altivo e forte estranho e duro
Que dissesse a chorar isto que sinto

CLARA

FADO PARA ESTA NOITE ( César Oliveira / Ferrer Trindade )



FADO PARA ESTA NOITE

Anda deitar-te fiz a cama de lavado
Cheira a alfazema o meu lençol alinhado
Pus almofadas com fitas de cor
Colcha de chita com barras de flores
E á cabeceira tenho um santo alumiado

Volta esta noite p’ra mim
Canto-te um fado no silêncio se quiseres
Mando um recado ao luar
Que se costuma deitar ao nosso lado
Pra não vir hoje se tu vieres

Estendo o meu xaile pra nos servir de coberta
E um solitário ao pé da janela aberta
Pus duas rosas que estão a atirar
Beijos vermelhos sem boca p’rós dar
Sem o teu corpo minha noite está deserta

Volta esta noite p’ra mim
Pois só é noite p’ra mim
Ser abraçada pelos teus braços atrevidos
Quero o teu corpo sadio neste meu leito vazio
De madrugada beijo os teus lábios Adormecidos

FRANCISCO STOFFEL

CANTO PARA NÃO CHORAR ( Manuel de Andrade / Fado Puxavante )



CANTO PARA NÃO CHORAR

Eu canto p’ra não chorar
Chorando canto também
Eu vivo só p’ra cantar
Toda a dor que a vida tem

Como uma prece diferente
Que aos pés de deus vá rezar
Cada um canta o que sente
Eu canto p’ra não chorar

E esta canção tão linda
Que me ensinou minha mãe
Cada vez que a lembro ainda
Chorando-a canto também

Comecei de pequenino
Este longo caminhar
Fiz do fado o meu destino
Eu vivo só p’ra cantar

Na minha voz dolorida
O fado retrata bem
As incertezas da vida
Toda a dor que a vida tem

HÉLDER MOUTINHO

AO VELHO CANTOR ( Hélder Moutinho / DR Fado Menor )



AO VELHO CANTOR

Velho cantor do passado
Senhor que o fado abençoa
Imagem do velho fado
O velho fado em pessoa

Teus olhos negros, cansados
Cheios de dor e verdade
Trazem imagens de fados
De fados feitos saudade

Tua voz cansada e triste
Sempre cheia de ternura
Quer dizer que o fado existe
Na morada da loucura

E é tão louca a tua vida
Senhor que o fado abançoa
Mas é loucura sentida
O velho fado em pessoa

ISILDA MIRANDA

BUZIOS ( Jorge Fernando )



BUZIOS

Havia a solidão da prece no olhar triste
Como se os seus olhos fossem as portas do pranto
Sinal da cruz que persiste, os dedos contra o quebranto
E os búzios que a velha lançava sobre um velho manto

À espreita está um grande amor mas guarda segredo
Vazio tens o teu coração na ponta do medo
Vê como os búzios caíram virados p’ra norte
Pois eu vou mexer o destino, vou mudar-te a sorte

Havia um desespero intenso na sua voz
O quarto cheirava a incenso, mais uns quantos pós
A velha agitava o lenço, dobrou-o, deu-lhe 2 nós
E o seu padre santo falou usando-lhe a voz

À espreita está um grande amor mas guarda segredo
Vazio tens o teu coração na ponta do medo
Vê como os búzios caíram virados p’ra norte
Pois eu vou mexer o destino, vou mudar-te a sorte

TERESA TAROUCA

NÃO SOU FADISTA DE RAÇA ( T. Cavazini / Alfredo Marceneiro )



NAO SOU FADISTA DE RAÇA

Não sou fadista de raça
Não nasci no Capelão
Eu canto o fado que passa
Nas asas da tradição

Nunca usei negra chinela
Nem vesti saia de lista
Nunca entrei numa viela
Mas tenho raça fadista


Tirei suspiros ao vento
Olhei um pouco o passado
Busquei do mar o lamento
E fiz assim o meu fado


É este fado famoso
Que em noites enluaradas
O Conde de Vimioso
Tangia nas guitarradas


Era fidalgo de raça
E ficou na tradição
Cantando o fado que passa
Na Rua do Capelão

CRISTINA NAVARRO

AS TUAS MÃOS GUITARRISTA ( Maria Manuel Cid / Joaquim Campos da SIlva )



AS TUAS MÃOS GUITARRISTA

São tuas mãos guitarrista
Que as cordas fazem vibrar
Que me fizeram fadista
E não deixam que desista
Ao desejo de cantar

A guitarra quere-te tanto
Tem por ti tal afeição
Que te deu consentimento
Pra desvendares o tormento
Que arde no coraçao

Em teu peito tem guarida
Em tuas maos seu penar
Se tu não lhe desses vida
Ficava pra li esquecida
E não voltava a trinar

E se a tens abandonado
Não seria mais fadista
Mesmo que fosse cantado
Morria com ela o fado
Sem tuas maos guitarrista

FERNANDO MAURICIO

DIZ-ME MÃE ( DR / Fernando Mauricio )



DIZ-ME MÃE

Tu não tens culpa mãe de eu ser só isto
Havia dois caminhos, o do diabo e o de Cristo
O terceiro inventei nele me perdi
Então criei sozinho um outro mundo, tão belo
Tão perfeito como as curvas suaves do teu peito
Que não vi.
Mãe, quero ser pequenino
Que os meus primeiros passos
Sejam iguais aos de menino
Saído dos teus braços sem ambição.
Tu não tens culpa mãe de eu ser só isto
Perdão.

Diz-me, diz-me, minha mãe
Na tristeza desta hora
Quantas dores eu te custei
E te dei, pela vida fora

Diz-me, se quando dormia
Nesse teu colo divino
A tua alma, não pedia
A Deus pelo teu ninho

Diz-me tu, que me geras-te
Meu vaso, minha raiz
Quantas lágrimas choras-te
Pelas loucuras que fiz

Todas as dores, do passado
E do presente também
Descansas, neste meu fado
Boa noite, minha mãe

CÉSAR MORGADO

AMOR DE MÃE ( Miguel Ramos / César Morgado )



AMOR DE MÃE

És sempre para mim a mais bonita
Apesar de enrugado esse teu rosto
Serás até morrer mãe infinita
Aquela sempre aquela que eu mais gosto

Apesar de velhinha podes crer
Gostar sempre de ti nada o evita
Nunca te trocarei por outra qualquer
És sempre para mim a mais bonita

Frases puras do amor que tanto zelo
Como o dever dum filho honrar tal posto
Assim és para mim o ser mais belo
Apesar de enrugado esse teu rosto

De tantos sacrifícios teres passado
Só quem não sabe amar não acredita
Que a deusa dum amor puro e sagrado
Serás até morrer mãe infinita

De todas és para mim a mais querida
Apesar de outro amor que eu não desgosto
Assim és sempre tu pra toda a vida
Aquela sempre aquela que eu mais gosto

LIDIA RIBEIRO

AGORA É TARDE ( )



AGORA É TARDE

De tanto que te amei já não me interesso
Foi rasto que ficou sob a poeira
De tudo o que te dei nada te peço
Foi cinza que voou dessa fogueira
Pois nem sequer a dor de uma saudade
Guarda o calor de tal amor sem amizade

Agora é tarde pois acredita
Amor que morre não ressuscita
Nada te presta minha dor em que me abismo
E o que em ti resta desse amor é egoísmo

Não finjas compaixão é escusado
Tentar descer ao fundo deste abismo
Não tenhas ilusão porque o passado
Está morto no teu mundo de cinismo
Pois nem sequer a flor de uma lembrança
Acorda a cor nem o fulgor de nova esperança

Agora é tarde pois acredita
Amor que morre não ressuscita
Nada te presta minha dor em que me abismo
E o que em ti resta desse amor é egoísmo

CELESTE RODRIGUES

AS CARTAS ( )



AS CARTAS

As cartas que me mandas devolver-te
Agora que acabou o nosso amor
Perdoa mas eu tenho que dizer-te
Que todas já rasguei sei-as de cor

Ditava-as uma a uma ao teu ouvido
Com a mesma vibração com que as li
E a pena de te ver pra mim perdido
É igual ao meu sentir quando te vi

Pedes-me o teu retrato e eu não tenho
Não te posso mandar também agora
Pois o amor que te tive foi tamanho
Que o devorei com beijos hora a hora

As flores que me ofertas-te emurcheceram
Perdendo a pouco e pouco vicicor
Mas aqui tas devolvo o que elas eram
Espelho mais fiel do teu amor

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

ANA MOURA

COMO O TEMPO CORRE ( Fernando Mata / Fado meia noite )



COMO O TEMPO CORRE

No céu de estrelas lavado
Pelo luar que beija o chão
Nasce um cinzento azulado
Que me aquece o coração

Como o tempo seca o pranto
Adormece a própria dor
E vejo com desencanto
Passar o tempo do amor

No seu correr tudo leva
Na fúria da tempestade
Se parte nunca mais chega
Chega em seu lugar a saudade

Meu deus como o tempo corre
No tempo do meu viver
Parece que o tempo morre
Mesmo antes de nascer



ANTÓNIO PARREIRA

BALADA DA SUADADE ( António Parreira )

Guitarra- António PArreira / Viola- Francisco Gonçalves




Video feito pelo Sr. Américo. O nosso muito obrigada pelo seu trabalho e por o disponibilizar aqui na net, para que nós e outros o possamos usar.

LINDA LEONARDO

ESQUINA DO CÉU( Alfredo Marceneiro / Tiago Torres da Silva )



ESQUINA DO CÉU

Não sei se andei na lota
Não sei se senti frio
Mas sei que fui gaivota
Voando sobre o rio

Gaivota que insinua
O céu que existe em mim
A sombra de uma rua
Que nunca mais tem fim

O meu coração voa
Sem conhecer a rota
Que lhe traçou Lisboa
Num voo de gaivota

Deus queira que eu não me esqueça
Que o céu tem uma esquina
Onde quem vai depressa
Não vê a própria sina

Quem não acreditar
Que a sua alma voa
Não deve procurar
Os beijos de Lisboa

Um beijo ressuscita
Um beijo também mata
Quem finge que acredita
Que o Tejo é todo em prata

Uma bala percorre
Um triste entardecer
Mas Lisboa não morre
Sem antes me dizer

Por teres sido gaivota
Talvez um dia eu faça
Um céu que abrace a rota
Da dor que me trespassa

MARIA DO ROSÁRIO BETTENCOURT

VERDES CAMPOS, VERDE VIDA ( Maria Manuel Cid / Fernando P. Coelho )



VERDES CAMPOS, VERDE VIDA

Verdes campos verde vida
Toda a campina florida
De repente escureceu
Fez-se noite em toda a parte
E porque o sonho não parte
Fiquei só apenas eu

Uma certeza me deste
E nela o sabor agreste
Da sina que foi traçada
A parra do azevinho
Já nasce trazendo espinho
E morre quando pisada

E morre porque não sabe
Que alguma parte lhe cabe
De tanta coisa perdida
Algo mais amargo e doce
E sempre se mais não fosse
Verdes campos verde vida

Nada tenho resta apenas
Esta roupagem de penas
Mais pobre que um pobrezinho
Mas quando a morte chegar
Eu sei que posso voltar
Ao verde do meu caminho

DULCE GUIMARÃES

ANSIEDADE ( )



ANSIEDADE

Ansiedade
De ter-te nos meus braços
Murmurando palavras de amor
Ansiedade
De ter os teus encantos
E a tua boca voltar a beijar

Quem sabe estão chorando os meus pensamentos
E as lágrimas são pérolas que caiem ao mar
O eco adormecido esse meu lamento
Fez-te estar presente no meu sonhar
Quem sabe está chorando ao recordar-me
E abraças o meu retrato com frenesim
E chega ao teu ouvido a melodia selvagem
Que é toda essa tristeza de estar sem ti

LINDA RODRIGUES

MADRUGADA DE ALFAMA ( David Mourão Ferreira / Alain Oulman )



MADRUGADA DE ALFAMA

Mora num beco de Alfama
E chamam-lhe a madrugada
E chamam-lhe a madrugada
Mas ela de tão estouvada
Nem sabe como se chama
Nem sabe como se chama

Mora numa água furtada
Que é a mais alta de Alfama
A que o sol primeiro inflama
Quando acorda a madrugada
Quando acorda a madrugada
Mora numa água furtada
Que é a mais alta de Alfama

Nem mesmo na Madragoa
Ninguém compete com ela
Ninguém compete com ela
Que do alto da janela
Tão cedo beija Lisboa
Tão cedo beija Lisboa

E a sua colcha amarela
Faz inveja á Madragoa
Madragoa não perdoa
Que madruguem mais do que ela
Que madruguem mais do que ela
E a sua colcha amarela
Faz inveja á Madragoa

Mora num beco de Alfama
E chamam-lhe a madrugada
E chamam-lhe a madrugada
São mastros de luz doirada
Os ferros da sua cama
Os ferros da sua cama

E a sua colcha amarela
A brilhar sobre Lisboa
É como estátua de proa
Que anuncia a caravela
Que anuncia a caravela
E a sua colcha amarela
A brilhar sobre Lisboa

sexta-feira, 25 de junho de 2010

FRANCISCO STOFFEL

ORAÇÃO (Fado Cravo/Jorge Empis



ORAÇÃO

Quero-te mais do que á vida
Como quem com a morte lida
Quero a deus nosso senhor
Quero-te com toda a alma
E ninguém me leva a palma
A querer-te com tanto ardor

Como fadista á guitarra
Preso está na mesma garra
Assim preso por ti estou
Como a tristeza á saudade
Como a morte á eternidade
Como a dor a quem chorou

Por isso confio ao fado
Que é amigo dedicado
As penas do coração
Pego na guitarra e canto
E ás vezes este meu pranto
Faz lembrar uma oração

sábado, 29 de maio de 2010

SUSANA LOPES

FOI NA TRAVESSA DA PALHA (Gabriel Oliveira/Frederico de Brito)




FOI NA TRAVESSA DA PALHA

Foi na Travessa da Palha
Que o meu amante, um canalha
Fez sangrar meu coraçao
Trazendo ao lado outra amante
Vinha a gingar petulante
Em ar de provocaçao.

Na taberna do friagem
Entre muita fadistagem
Enfrentei-os sem rancor
Porque a mulher que trazia
Com certeza nao valia
Nem sombras do meu amor.

P'ra ver quem tinha mais brio
Cantamos ao desafio
Eu e essa outra qualquer.
Deixei-a a perder de vista
Mostrando ser mais fadista
Provando ser mais mulher.


Foi uma cena vivida
De muitas da minha vida
Que nao se esquecem depois,
Só sei que de madrugada
Após a cena acabada
Voltamos para casa os dois.

sexta-feira, 28 de maio de 2010

LINDA LEONARDO

TEMPO DE GAIVOTAS (Humberto Sotto Mayor/Marino de Freitas)



TEMPO DE GAIVOTAS

Como vai longe
Aquele tempo das gaivotas
Como vai longe
Aquele mar que nos unia
Como trilhamos
Novas ruas novas rotas
Como ganhamos
Esta vã melancolia

Como vai longe
A nostalgia dessa tarde
Como vai longe
O por do sol daquele Outono
Como é eterno
Nosso fogo que não arde
E como é de hoje
Esse sossego este abandono

Como está perto esta lonjura
Esta distancia tua presença
De não estares ao pé de mim
E como é louca
A tua ausência a nossa infância
O nosso lago
O nosso banco de jardim

Como vai longe
Este querer de não te querer
Como anda perto
Desta boca o desalento
Ai como dói
Esta saudade de te ver
E como é longo
De passar este momento

Como está perto esta lonjura
Esta distancia tua presença
De não estares ao pé de mim
E como é louca
A tua ausência a nossa infância
O nosso lago
O nosso banco de jardim

SEBASTIÃO ROBALINHO

VELHO BARCO (António Rodrigues/Zulmiro Vieira)



VELHO BARCO

Meu velho barco cansado
Do tempo e dos vendavais
É mais triste este meu fado
Quando estás junto do cais

No teu casco envelhecido
De tanta tanta viagem
Quanto roteiro vencido
E quando porto esquecido
Tu trazes como bagagem

Meu velho barco
No Tejo em arco embandeirado
Na tarde amena
So tu tens pena deste meu fado
Quanta tristeza
Vive em mim preza
E em ti também
Mas só a gente é quem a sente
E mais ninguém

Deitei ao mar os ciúmes
Que tinha no coração
E ele fez dos meus queixumes
A rota da solidão

Como é igual o nosso fado
Nossa cruz nosso tormento
Meu velho barco cansado
Nosso fim está ligado
Ao sol ao mar e ao vento

Meu velho barco
No Tejo em arco embandeirado
Na tarde amena
So tu tens pena deste meu fado
Quanta tristeza
vive em mim preza
E em ti também
Mas so a gente é quem a sente
E mais ninguém

MANUELA CAVACO

BAIRRO ALTO (Carlos Neves/Francisco Carvalhinho)



BAIRRO ALTO

Bairro Alto aos seus amores tão delicado
Quis um dia dar nas vistas
E saíu com os trovadores mais o fado
Pr'a fazer suas conquistas

Tangeu as liras singelas,
Lisboa abriu as janelas
Acordou em sobressalto
Gritaram bairros à toa
Silêncio velha Lisboa
Vai cantar o Bairro Alto

Trovas antigas, saudade louca
Andam cantigas a bailar de boca em boca
Tristes bizarras em comunhão
Andam guitarras a gemer de mão em mão

Por isso é que ganhou fama de boémio
Por condão é fatalista
Atiraram-lhe com a lama como prédio
Por ser nobre e ser fadista

Hoje saudoso e velhinho,
Recordando com carinho
Seus amores suas paixões
Pr'a cumprir a sina sua
Ainda veio pr'o meio da rua
Cantar as suas canções

Trovas antigas, saudade louca
Andam cantigas a bailar de boca em boca
Tristes bizarras em comunhão
Andam guitarras a gemer de mão em mão

domingo, 23 de maio de 2010

FRANCISCO MARTINHO

VELHA LISBOA (João de Freitas)



VELHA LISBOA

Ó Lisboa do passado
Que é feito da tradição
Em que o fado era mais fado
E falava ao coração

A tua grande beleza
Deves sentir-te orgulhosa
E ao mesmo tempo saudosa
Da passada singeleza

Tu eras bem portuguesa
Tinhas nisso galardão
Mas hoje o lindo pregão
Já não se ouve em qualquer lado
Ó Lisboa do passado
Que é feito da tradição

Já não te lembras das hortas
Das esferas e tipóias
E dessas belas rambóias
Que haviam fora de portas

Ali até horas mortas
Em tempos que já lá vão
O fado linda canção
Em silêncio era escutado
Porque o fado era mais fado
E falava ao coração

terça-feira, 18 de maio de 2010

MÁRIO SARAIVA

TANTOS FADOS DEU-ME A VIDA ( )



TANTOS FADOS DEU-ME A VIDA

Eu fui a voz aquela voz dolorida
Cantando a sós ou a solidão da vida
Mas sei que em mim há um laço transparente
E há um generoso abraço entre mim e a minha gente

Tantos fados deu-me a vida
E eu dei-me todo ao fado
Entre um verso e uma bebida
Em cada noite perdida
Em mil fados fui escutado

Cantei os sonhos frustrados
Dos poetas sonhadores
Dei a voz a tristes fados
Vou cantar de olhos cerrados
Vi mais perto as suas dores

Fui o sal de tanta lágrima triste
Um vendaval que se amaina e logo insiste
Mas sei que em mim houve sempre á flor da voz
Um fado triste e dolente que é fado que há em nós

Tantos fados deu-me a vida
E eu dei-me todo ao fado
Entre um verso e uma bebida
Em cada noite perdida
Em mil fados fui escutado

Cantei os sonhos frustrados
Dos poetas sonhadores
Dei a voz a tristes fados
Vou cantar de olhos cerrados
Vi mais perto as suas dores

segunda-feira, 17 de maio de 2010

CARMINHO

CARTA A LISBOA (Diogo Clemeente/Ricardo Rocha)



CARTA A LISBOA

Tal qual o velho Tejo e as águas p’ra depois
Aqui me tens na espera de quem partiu de mim
Em ti Lisboa eu vejo as horas de nós dois
E sei não ser quem era num tempo antes do fim

Como eu barcos parados cansados deste mar
Ocultam liberdades na frágil luz das velas
Que ás mãos doutros recados que o vento quis roubar
Perderam-se as saudades fecharam-se as janelas

Assim vivo comigo num rio de mim p’ra mim
Maiores os dias de hoje são menos que outros dias
Talvez por ser abrigo de alguém que antes de fim
Me chega e que me foge deixando as mãos vazias

E há tanto por dizer nas linhas desta dor
Que a voz do que magoa confunde-me o desejo
Aqui espero por ter o rio do meu amor
Correndo em ti Lisboa tal qual o velho Tejo

SEBASTIÃO ROBALINHO

FADO ROBALINHO (Joaquim Pimental/Sebastião Robalinho)



FADO ROBALINHO

Não nasci na Mouraria
Bairro Alto ou Madragoa
Nasci p’rás bandas do norte
E mal conheço Lisboa

Mas sou fadista de lei
Posso afirmá-lo não minto
Canto o fado como eu sei
Como eu posso e como eu sinto

Gosto do fado corrido
Do Mouraria ao Menor
Gosto do fado batido
Quando marcado a rigor

De todos o mais castiço
Gosto deles cá pra mim
Cá pró ti ó Robalinho
Nascido em Gaias Sandim

Há quem diga mal do fado
Há quem fale sem saber
O fado não é culpado
Do destino de um qualquer

Gosto de cantar o fado
Ao canta-lo sou feliz
O fado é hino sagrado
Das canções do meu pais

Gosto do fado corrido
Do Mouraria ao Menor
Gosto do fado batido
Quando marcado a rigor

De todos o mais castiço
Gosto deles cá pra mim
Cá pró ti ó Robalinho
Nascido em Gaias Sandim

MANUELA CAVACO

BRINCOS PARA BRINCAR (João Linhares Barbosa/Francisco Carvalhinho)



BRINCOS PARA BRINCAR

Quando eu era pequenina
P’ra me enfeitar as orelhas
Minha mãe punha-me ás vezes
Quatro cerejas vermelhas

E toda tola lembro-me ainda
Que ia para escola vaidosa e linda
Brincos vermelhos a dar que dar
Pedia espelhos p’ra me mirar

Diziam todos que bem que fica
Lembra nos modos menina rica
Via-os revia-os como riqueza
Depois comia-os á sobremesa

Um dias as mais raparigas
Filhas como eu da pobreza
Puseram-me nas orelhas
Dois brinquinhos de princesa

E toda triques faces coradas
Ia aos despiques nas desfolhadas
Vinham meus brincos de algum vergel
Não punham vincos na minha pele

Depois mais tarde vi-te e amei
Deste-me brincos de oiro de lei
Bendito sejas mas na verdade
Vejo cerejas sinto saudades

JORGE GANHÃO

POR UM COPO DE VINHO (José Fanha/Jorge Ganhão)



POR UM COPO DE VINHO

Por um copo de vinho te diria
Onde o mundo começa e se dilata
Onde a veia rebenta e se desata
A fonte da ternura e da alegria
Por um copo de vinho te diria

Por um beijo azul por uma mão
Dançaria contigo até cair
Na cama maravilha de faquir
Que arranca a luz da lua ao coração
Por um beijo azul por uma mão

Eu sei no mar a cor dos laranjais
E a rota das gaivotas sob a pele
E tudo te diria pão e mel
Por um copo de vinho e pouco mais
Por um copo de vinho e pouco mais
Por um copo de vinho e pouco mais

António Moreira da Silva

DIGAM (Manuel Andrade / Frederico de Brito)



DIGAM

Se hoje alguém me procurar
Digam que não pode entrar
Que não estou p’ra ninguém
Fechem-lhe a minha janela
E mesmo que seja ela
Digam que não estou também

Digam que a não quero ver
Que não me faça sofrer
Digam -lhe que se vá embora
Digam que á muito morri
Mesmo que nunca existi
Digam que aqui ninguém mora

Façam o que lhes lembrar
Digam que não pode entrar
Que não estou p’ra ninguém
Que a porta ficou trancada
Ou então não digam nada
Porque eu sei que ela não vem

sexta-feira, 14 de maio de 2010

FERNANDA OLIVEIRA

ESTADO D'ALMA ( VILA BRANCA? )( )



ESTADO D'ALMA - VILA BRANCA ?

Que linda vila é a minha
Ó vila que tanto encanta
De muralhas tão velhinhas
Chamam-lhe hoje Vila branca

Entrei nas portas de Beja
Subi a santa Maria
Fui ver o velho castelo
Que há muito tempo não via

Desci pela porta nova
Esse casario com graça
Entrei nas portas de Moura
Dei por mim estava na praça

Já noite nas suas ruas
Fui vivendo a solidão
Fui sonhando fui chorando
Fui cantando uma canção

Lembrando que fui criança
Nas suas ruas brinquei
Vivendo recordações
Foi cantando que chorei

Que linda vila é a minha
Chamam-lhe hoje
Vila branca

ROBERTA SÁ

EU JÁ NÃO SEI (Domingos Gonçalves Costa/Carlos Rocha)



EU JÁ NÃO SEI

Eu já não sei
Se fiz bem ou se fiz mal
Em pôr um ponto final
Na minha paixão ardente
Eu já não sei
Porque quem sofre de amor
A cantar sofre melhor
As mágoas que o peito sente

Quando te vejo e em sonhos sigo os teus passos
Sinto o desejo de me lançar nos teus braços
Tenho vontade de lhe dizer frente a frente
Quanta saudade há do teu amor ausente
Num louco anseio, lembrando o que já chorei
Se te amo ou se te odeio
Eu já não sei

domingo, 9 de maio de 2010

JOSÉ MANUEL BARRETO

PALHAÇO ( )



PALHAÇO

Foi na pista dum circo certo dia
Um famoso palhaço trabalhava
E o publico em delírio e alegria
Não nota que na pista alguém chorava

Dada por finda a sua actuação
Do público se despede o artista
Mas nisto uma estrondosa ovação
Exige que o palhaço volte á pista

Ao longe ouviu-se a voz dum garotinho
Que o rir de muita gente interrompeu
Dizendo vem depressa meu paizinho
Porque a minha mãezinha já morreu

Abraçado ao petiz a soluçar
O palhaço caiu por sobre a pista
Então ouviu-se o público a gargalhar
Pensando ser trabalho do artista

O palhaço levantando-se se ergueu
Dizendo para todos com voz forte
A mulher que eu mais amo já morreu
E vós estais a rir da sua morte

O garoto que eu agora muito abraço
É tudo quanto resta do meu lar
Por isso tenham pena dum palhaço
Que leva a vida rir pra não chorar

MANUELA CAVACO

MALMEQUERES (Dr. Manuel Paulino Gomes Junior)



MALMEQUERES

Malmequeres bem me queres
São flores de louco encanto
Malmequeres bem me queres
Desfolham risos ou pranto

Os jovens apaixonados
Perguntam baixinho á flor
Se são queridos desejados
Se são queridos desejados
Ou felizes no amor

Se os malmequeres
Gentis e formosos
Dizem bem me queres
Aos rostos ansiosos
Das lindas mulheres
Constroem castelos
Nos seus corações
Loucas ilusões, loucas ilusões
E sonhos tão belos

Dois jovens enamorados
Um malmequer desfolharam
Mas ficaram enganados
Com a resposta que apanharam

O malmequer respondeu
Com o seu eterno sorrir
Isso não respondo eu
Isso não respondo eu
Pois não gosto de mentir

Se os malmequeres
Gentis e formosos
Dizem bem me queres
Aos rostos ansiosos
Das lindas mulheres
Constroem castelos
Nos seus corações
Loucas ilusões, loucas ilusões
E sonhos tão belos

terça-feira, 4 de maio de 2010

SUSANA LOPES

HERANÇAS (Susana Metello Lopes/Fado Carriche)



HERANÇAS

Minha mãe deu-me esta voz
Este soluço magoado
Pôs-me na garganta a noz
Dolente e bela do fado

Meu pai deu-me a poesia
E este gosto de escutar
A doce melancolia
De uma guitarra a trinar

Também herdei a magia
De ter nascido em Lisboa
No meu peito á Mouraria
Nos meus olhos Madragoa

Trago o fado nos sentidos
Que linda herança a minha
Que os meus dois amores queridos
Deram á sua alfacinha

Minha herança é a mais bela
Que alguém jamais recebeu
Azul e rosa aguarela
O fado a guitarra e eu

MANUELA CAVACO

FADO DO PESCADOR (Desconhecido / Aníbal Nazaré)



FADO DO PESCADOR

Vieste-me perguntar
O que era um pescador
Agora vou explicar
Toma atenção por favor

É um homem de pulso forte
A quem nada mete afronta
Sem temer a própria morte
Corre o mar de ponta a ponta

Noites passar fora do lar abençoado
Ter alma nobre ser homem pobre e ser honrado
Andar no mar e suportar frio e calor
Viver na fé eis o que é ser pescador

É um homem sem vaidade
Que não possui ambição
Trabalha com lealdade
Para angariar seu pão

Nas noites de chuva e vento
Em que o mar lhe dá mais trilho
Não lhe sai do pensamento
Sua mulher e seus filhos

Noites passar fora do lar abençoado
Ter alma nobre ser homem pobre e ser honrado
Andar no mar e suportar frio e calor
Viver na fé eis o que é ser pescador

sábado, 24 de abril de 2010

ROSITA

VERSOS À MINHA MÃE (Manuel Carvalho / Fado Carriche)



VERSOS Á MINHA MÃE

Se pudesses cá voltar
Ó minha mãe minha santa
Tinha tanta coisa tanta
Minha mãe p’ra te contar

Na vida o amor de alguém
Para amar eu conheci
Não me compensa de ti
Mas sou feliz minha mãe

P’ra compensar teus afectos
Dos filhos tenho meiguices
Ó minha mãe se tu visses
Que lindos são os teus netos

Eu rezo á virgem por ti
Saudosa do teu amor
Minha vida era melhor
Se tu voltasses aqui

Num canto desse jardim
Se vires o meu pai também
Diz-lhe que vai tudo bem
E dá-lhe um beijo por mim

NELSON DUARTE

ANOS DE CASADOS (Manuel Carvalho / Fado Esmeraldinha)



ANOS DE CASADOS

Hoje fazemos anos de casados
Trago rosas vermelhas para te dar
E um molho de beijos perfumados
Pelo prazer que tenho de te amar

Cá vamos pela vida a caminhar
Sempre de mão dada companheira
Os filhos são o sal p’ra temperar
Este nosso amor p’rá vida inteira

Chamou-nos o destino quando quis
Juntar duas vidas num só fado
Fez de mim o homem mais feliz
Por te ter a ti sempre a meu lado

Bendita seja a hora em que te vi
Grato por na vida seres meu par
E por ainda gostar tanto de ti
Trago rosas vermelhas p’ra te dar

JOAQUIM BRANDÃO

VIVES NO MEU PENSAMENTO (Manuel Carvalho / Fado Rosita)



VIVES NO MEU PENSAMENTO

Não me sais do pensamento
Tu andas sempre comigo
A cada hora e momento
Eu ando no fado contigo

Para te ver a surgir
Basta meus olhos fechar
E tu lá vens a sorrir
Á minha mente brincar

Á noite sonho contigo
E adormeço num beijo
Mas durmo para meu castigo
Um sono feito desejo

Quando me ponho a pé
Lá começa o meu tormento
Sabe-me a beijo o café
Não me sais do pensamento

ARTUR BATALHA

QUADRAS SOLTAS ( )



QUADRAS SOLTAS

Ouvi um fado sem nome
Numa voz entristecida
Não sei porquê recordou-me
O fado da minha vida

Eu vi minha mãe rezando
Aos pés da virgem Maria
Era uma santa escutando
O que outra santa dizia

Ó minha mãe minha mãe
Ó minha mãe minha amada
Quem tem uma mãe tem tudo
Quem não tem mãe não tem nada

Nenhum fadista tem sorte
Rogai por nós virgem mãe
Agora sempre e também
Na hora da nossa morte

AMÉLIA MARIA

ESTE MEU AMOR SECRETO ( Manuel Carvalho / Fado Primavera)



ESTE MEU AMOR SECRETO

Este meu amor secreto
Vive tão longe e tão perto
Faz minha vida em pedaços
Mas de tão lindo e profundo
Eu sinto que tenho o mundo
Quando ele está nos meus braços

Um dia se não o vejo
A saudade e o desejo
Vão aumentando em meu peito
Eu vivo nesta ansiedade
E nesta cumplicidade
Traz minha vida sem jeito

Estendo o braço na cama
Mas o frio não me engana
O meu peito é um deserto
E com ele quando sonho
Muitas vezes eu suponho
Que está comigo tão perto

Seu beijo é bebida
Que sacia a minha vida
Na sede do meu afecto
É tão doce e sublime
Que de tão puro redime
Este meu amor secreto

ANITA GUERREIRO

SENHORA DA SAÚDE (Francisco Radamenteo / Raúl Ferrão)



SENHORA DA SAÚDE

Ai Mouraria roubam-te a jóia mais bela
A dona airosa capela que é teu brasão
Ai nunca mais há pelas ruas rosmaninho
Atapetar o caminho da procissão

Não faltam mais as matines engomadas
Chinelas afiambradas e as samarras
Ai mouraria vão levar pra outro lado
Nossa senhora do fado e das guitarras

Padroeira dos corações fadistas
Nas vielas bairristas eras a luz da vida
A teus pés a pinóia do fado
Chorando o seu pecado
Rezava arrependida
Virgem santa Senhora da saúde
Os homens de alma rude
Roubam-te á Mouraria
Santa virgem sem o teu lindo altar
Onde é que há-de ir rezar
Uma Rosa Maria

Ai Mouraria vai-se-te a graça o encanto
Desse divino recanto da padroeira
Ó pecadora dai-lhe ao menos o desvelo
Dum oratório singelo na Amendoeira

Pra que as fadistas daqui e do Capelão
Tenham amparo e perdão na sua dor
Pra que as guitarras da moirama sonhadora
Rezam a nossa senhora canções de amor


Padroeira dos corações fadistas
Nas vielas bairristas eras a luz da vida
A teus pés a pinóia do fado
Chorando o seu pecado
Rezava arrependida
Virgem santa Senhora da saúde
Os homens de alma rude
Roubam-te á Mouraria
Santa virgem sem o teu lindo altar
Onde é que há-de ir rezar
Uma Rosa Maria

VERDES ANOS

MINHA MÃE ( )



MINHA MÃE


Ó minha mãe minha mãe
Ó minha mãe minha amada
Quem tem uma mãe tem tudo
Quem não tem mãe não tem nada

Quem não tem mãe não tem nada
Quem a perde é pobrezinho
Ó minha mãe minha mãe
Onde estás que eu estou sozinho

Estou sozinho no mar alto
Sem medo á noite cerrada
Ó minha mãe minha mãe
Ó minha mãe minha amada

CARLOS ZEL

QUE OS MEUS AMIGOS ME CANTEM ( )



QUE OS MEUS AMIGOS ME CANTEM

Quando eu morrer que o meu corpo
Vá sobre as ondas do mar
Que um poeta quando morto
Já não pode naufragar

Que os meus amigos me cantem
Uma canção de embalar
E gaivotas me transportem
Por sobre as ondas do mar

Que uma flor seja atirada
Sobre o meu corpo dormente
Que uma flor incendiada
Só não queima quem não sente

Que se acabe em cada porto
O medo de cada olhar
Que um poeta que está morto
Vai sobre as ondas do mar

CARLOS RAMOS

TORRE DE BELÉM ( )



TORRE DE BELÉM

Velha torre de Belém
Padrão de estilo invulgar
Onde Portugal contém
Toda a história de além-mar

Nas tuas pedras singelas
A glória gravou bem fundo
A rota das caravelas
Que deram mundos ao mundo

E nas pedras rendilhadas
Floriu a rosa-dos-ventos
Que acompanhou as cruzadas
E os grandes descobrimentos

Sentinela vigilante
Teu nome no mundo inteiro
Recorda o tempo distante
De Portugal marinheiro

Foi de Belém que partiram
Quando mar era um mistério
Essas naus que descobriram
As terras do nosso império

Velha torre de Belém
Padrão de estilo invulgar
Onde Portugal contém
Toda a história de além-mar

sexta-feira, 23 de abril de 2010

FILOMENO SILVA

UM LEVE GOSTO A PECADO (Manuel Carvalho / Fado Franclim)



UM LEVE GOSTO A PECADO

És na vida a minha sina
Tu és um sonho de deus
Que minha alma ilumina
E alegra os olhos meus

O teu olhar meigo e doce
Duma doçura divina
E mesmo que assim não fosse
És na vida a minha sina

Um leve gosto a pecado
Têm teus lábios nos meus
Tu és na vida o meu fado
Tu és um sonho de deus

O teu corpo me seduz
E tudo em ti me fascina
Meu amor tu és a luz
Que minha alma ilumina

Não passo um dia sem dar
De beber aos lábios teus
Nasce luz no teu olhar
E alegra os olhos meus

LINA SARDINHA

OS MEUS OLHOS SÃO DOIS CÍRIOS ( )



OS MEUS OLHOS SÃO DOIS CÍRIOS

Os meus olhos são dois círios
Dando luz triste ao rosto
Marcados pelos martírios
Da saudade e do desgosto

Quando oiço bater trindades
Que a tarde já vai no fim
Eu peço às suas saudades
Um padre-nosso por mim

Mas não sabes fazer preces
Não tens saudade nem pranto
Porque é que tu me aborreces
Porque é que eu te quero tanto

Mas para meu desespero
Como as nuvens que andam altas
Todos os dias te espero
Todos os dias me faltas

MIGUEL SILVA

A MELHOR DE TODAS ( Carlos Conde / Miguel Ramos)



A MELHOR DE TODAS

Apesar de na vida em que me iludo
A paixão ser um pouco de estranhar,
Eu tive uma mulher que me deu tudo
O que na vida mais se pode dar!

Furtou-me ao caminho desvairado
Onde as vidas sem norma se consomem,
E aconselhou-me sempre a ser honrado
A virtude maior que tem o homem!

Nunca me abandonou nas incertezas
Que fazem apressar os nossos dias,
Chorou sempre comigo nas tristezas
P’ra comigo sorrir nas alegrias!

Deu-me beijos sem fim de amor sem par
Numa ardência profunda e altaneira,
E nunca precisou p’ra me beijar
De saber quanto eu tinha na carteira!

Essa mulher de um bem nobre e profundo
Como outro amor não tive em mais ninguém,
Era a mulher mais rica deste mundo
A mais rica por ser a minha mãe!

CILA D'AIRE

LENDA DO MAR ( Carlos Conde / )



LENDA DO MAR

Fui ouvir a voz do mar
Feito de sonho e de lenda
Vi morrer ondas na areia
Mas deixando a praia cheia
De filigranas de renda

Vou ouvir no cantar das ondas
Um caso de amor profundo
Dois noivos que em sobressalto
Foram noivar no mar alto
Longe das bocas do mundo

Uniram-se eternamente
Num fervor apaixonado
E a noiva em ultima prece
Pediu que o mar lhe tecesse
O fino véu do noivado

O mar prometeu que sim
Por estranho que pareça
E as ondas com alegria
Trabalham noite e dia
Para cumprir a promessa

Trabalham e vão morrendo
Morrendo sempre a cantar
Para não fugir á lenda
Deixam recortes de renda
Na areia branca do mar

DUARTE

FADO NOVEMBRO (Duarte / Fado meno)



FADO NOVEMBRO

Trago em todos os meus fados
Um não sei que de saudade
Corações danificados
E dias sem ter vontade
Trago em todos os meus fados
Um não sei quê de saudade

Trago em todos os meus fados
Aquela melancolia
De quem anda sem cuidados
De fazer de noite os dias
Trago em todos os meus fados
Aquela melancolia

Faço coisas que não digo
Digo coisas que não faço
Às vezes fado é castigo
Outras vezes é cansaço
Faço coisas que não digo
Digo coisas que não faço

Por cada fado que canto
Pago uma noite perdida
Mas se eu perdesse este canto
Perdia também a vida
Mas se eu perdesse este canto
Perdia também a vida

quarta-feira, 14 de abril de 2010

CARLOS RAMOS

O TEU OLHAR
Letra: Fernando Farinha / Música: Carlos Ramos



O TEU OLHAR

Desde que vi os teus olhos
Tenho o meu fado marcado
Meu fado são os teus olhos
Teus olhos são o meu fado

Teus olhos meninos tontos
Dentro de mim estão brincando
Se ergo os meus olhos um pouco
Vejo os teus olhos dançando

Eu quis cantar ao teu olhar que me encantou
Pois nele achei como não sei inspiração
Foi o calor dum olhar teu que me prendeu
E desde então o teu olhar é a razão desta paixão

Todas as minhas canções
Vivem do teu lindo olhar
Quando não olhas p’ra mim
Já eu não posso cantar

Teus olhos são dois poetas
De grande imaginação
Foram eles que ditaram
Os versos desta canção

Eu quis cantar ao teu olhar que me encantou
Pois nele achei como não sei inspiração
Foi o calor dum olhar teu que me prendeu
E desde então o teu olhar é a razão desta paixão

terça-feira, 13 de abril de 2010

MARIA SILVA

FADO ANTIGO ( )



FADO ANTIGO

Toda a mulher que for mãe
Tem este penar profundo
Ter filhos e não saber
O que eles serão no mundo

Dizem que amar é sofrer
Não o nego assim será
Mas bem ditoso sofrimento
Que tanto prazer nos dá

Quem ama muito padece
Lá diz um ditado antigo
Há quem ame e não parece
Porque guarda a dor consigo

SUSANA LOPES

MEU PORTUGAL MEU AMOR (José Luis Gordo / José Fontes Rocha)



MEU PORTUGAL MEU AMOR

Ai meu país
De onde vens pra onde vais
Com tanta gente a fazer
Dos teus dias os meus ais

Ai meu país
Minha terra portuguesa
De Camões
Que tu tiveste
Pelo ventre da tristeza

Todos os dias te canto
Na condição de ser tua
Neste fado neste pranto
Eu por ti ainda canto
Descalça por qualquer rua

Não sei se te cante ou chore
Não sei se te grite um dia
Que na força deste canto
Rasgo a alma e digo em pranto
Que eu por ti ainda morria

Ai meu país
Que trazes nos olhos fado
Desse rei que não voltou
Ao seu povo desejado
Na minha boca
Trago sempre o teu sabor
Por isso te canto e digo
Meu Portugal meu amor

MARIANA SILVA

E ASSIM NASCEU O FADO (Joaquim da Silva / José António Sabrosa)



E ASSIM NASCEU O FADO

Quando deus formou as rosas
Neste país encantado
Caiu uma e desfolhou-se
E dela nasceu o fado

Não havia uma canção
Entre as canções amorosas
Que despertasse a paixão
Quando Deus formou as rosas

Mas quis o bom criador
Que uma lá do seu agrado
Fosse uma canção de amor
Neste país encantado

Ou por divina magia
Ou fosse lá pelo que fosse
Ao despontar certo dia
Caiu uma e desfolhou-se

Segundo a lenda nos narra
Foi disposta com cuidado
Nas cordas de uma guitarra
E dela nasceu o fado

CIDÁLIA MEIRELES

FADO do filme "Os vizinhos do rés-do-chão"



FADO

Se esta vida continua
Por mais uns dias escassos
As pedras da minha rua
Já te conhecem os passos

E quando passas vê lá
Há tantas pedras no chão
Que escusas de vir p’ra cá
Com sete pedras na mão

Se pelo teu negro desdém
Ou por um desgosto choro
Choram as pedras também
Nesta rua aonde moro

Mas enfim se eu não for tua
Sempre tua até ao fim
Que as pedras da minha rua
Se levantem contra mim

CARLOS RAMOS

MARIA SARDENTA ( )



MARIA SARDENTA

Menina dos meus olhos
Maria sardenta
São tristes os teus olhos
Que dor te atormenta

Chamaram-te sardenta
É todo o teu desgosto
Não digas a ninguém
As sardas no teu rosto
Até te ficam bem

Na tua carne viva
Em vez de mil dores
Na tua carne viva
As sardas são flores

Alegra o teu sorriso
Não sejas pessimista
Não penses nisso mais
A gente prende a vista
Aonde vê sinais

Feliz seria se deixasses
Matar o meu desejo que me tenta
Beijar-te os mil sinais das faces
Maria sardenta

Não penses nisso mais
A gente prende a vista
Aonde vê sinais
Menina dos meus olhos
Maria sardenta

LINDA LEONARDO

CARA A CARA ( Tiago Torres / Carlos Gonçalves )



CARA Á CARA

Não sei o meu coração
Se fartou da condição
De bater só por bater
Se um segundo é uma hora
Desde que te foste embora
E eu não te voltei a ver

Oiço barulho na rua
Quando a saudade insinua
Que te tirei da cabeça
E és tu quem por lá anda
De olhos na minha varanda
Á espera que eu apareça

O tempo pára e ficamos cara a cara
Como alguém que se prepara
Para matar ou morrer
Mas a verdade é que vejo a eternidade
A desfazer a saudade
Que tu me deste a beber

Passam dias passam meses
Com sorrisos muitas vezes
Mas com lágrimas também
E o tempo vem de mansinho
E ao ver-me faz-me um carinho
Sorri mas não se detém

Quando já nem penso em ti
E julgo que já esqueci
O calor dos teus abraços
Por um acaso ou por sina
Vou a dobrar uma esquina
E tropeço nos teus passos

O tempo pára e ficamos cara a cara
Como alguém que se prepara
Para matar ou morrer
Mas a verdade é que vejo a eternidade
A desfazer a saudade
Que tu me deste a beber

MARIANA SILVA

FADO MENOR ( )



FADO MENOR
Se eu de saudades morrer
Apalpa meu coração
Talvez eu torne a viver
Ao calor da tua mão

Estou cansada de esperar
E não te vejo aparecer
Não é p’rá admirar
Se eu de saudades morrer

Se após morta teres voltado
Em busca do meu perdão
Embora frio e parado
Apalpa meu coração

Se com tua mão fizeres
Meu coração aquecer
Num beijo que tu me deres
Talvez eu torne a viver

Então meu coração quente
Renascida paixão
Viverei eternamente
Ao calor da tua mão

MARIA JOSÉ DA GUIA

NÃO ME VENHAS VER AO FADO (Dr. Guilherme Pereira da Rocha / Fado Zé Negro)



NÃO ME VENHAS VER AO FADO

Não me venhas ver ao fado
Por favor passa de lado
Vou começar nova vida
Deixa que eu amor te esqueça
Ou pelo menos que pareça
Que de ti já estou esquecida

Não me venhas ver ao fado
Deixa cair no passado
Ventura que já morreu
Já bem basta esta maldade
Ó pena de uma saudade
Que é tão tua como eu

Não me venhas ver ao fado
Onde um peito magoado
Canta mágoas e revoltas
Mas se voltas qualquer dia
É de tanta ave -Maria
Que rezei pela tua volta

MARIA ALBERTINA

O MEU FILHO (José Galhardo / Raul Ferrão)



O MEU FILHO
Meu filho que coisas tem o destino
Ganhei-te a ti meu menino
Na hora em que eu me perdi
Meu filho foi deus que quis consolar-me
E que achou justo pagar-me
A dor cruel que eu sofri

Meu filho meu grande amor minha alegria
Sem ti meu bem eu morria
É minha alma quem te diz
Meu filho que ao pé de ti tudo me passa
E até bem digo a desgraça
Que me tornou tão feliz

Meu filho só há um amor não te iludo
O amor de mãe que dá tudo
Sem reclamar nada em troca
Meu filho se me pedisses um dia
A própria vida eu daria
P’ra ver sorrir essa boca

Meu filho só hoje sei quanto é de terno
O suave peito materno
Quanto afecto em si contém
Meu filho vai ser a ti meu doce enlevo
Que eu vou pagar o que devo

Á santa que é minha mãe

domingo, 11 de abril de 2010

LIANA

SEGREDO ( )



SEGREDO

Meu amor porque me prendes
Meu amor tu nao entendes
Eu nasci p'ra ser gaivota
Meu amor não desesperes
Meu amor quando me queres
Fico sem rumo e sem rota

Meu amor eu tenho medo
De te contar o segredo
Que trago dentro de mim
Sou como as ondas do mar
Ninguém as sabe agarrar
Meu amor eu sou assim

Fui amada fui negada
Fugi fui encontrada
Sou um grito de revolta
Mesmo assim porque me prendes
Foge de mim nao entendes
Eu nasci p'ra ser gaivota

DIAMANTINA

VEM BEBER VINHO NOVO ( )



VEM BEBER VINHO NOVO

Anda daí vem comigo
Ama a vida esquece o mal
Vem conhecer um amigo
Que se chama Portugal

Tem praias de areia branca
E praias de areia branca
Vem conhecer a Severa
Que qualquer fadista canta

Anda vem comigo beber vinho novo
E levas contigo Portugal e povo
Anda vem comigo beber vinho novo
E levas contigo Portugal e povo

Toiradas á portuguesa
Com forcados a pegar
Anda ver tanta beleza
Que Deus pôs ao pé do mar

E verás nossa Lisboa
Cheia de encantos tão belos
Mouraria e Madragoa
E Alfama no seu castelo

Anda vem comigo beber vinho novo
E levas contigo Portugal e povo
Anda vem comigo beber vinho novo
E levas contigo Portugal e povo

Anda ver toiros correndo
Na lezíria junto ao Tejo
Ceifeiras ceifando o trigo
Nos campos do Alentejo

Vem ouvir cantar o fado
Essa canção sem idade
E dirás em todo o lado
Portugal ai que saudade

Anda vem comigo beber vinho novo
E levas contigo Portugal e povo
Anda vem comigo beber vinho novo
E levas contigo Portugal e povo

quinta-feira, 8 de abril de 2010

MANUEL FERNANDES

AMBIENTE DO FADO (Adelino dos Santos / Frederico de Brito)



AMBIENTE DO FADO

Há quem fale do passado
Pra dizer bem do presente
E jure que o pobre fado
É o pecado de muita gente

Melopeia que’ inda existe
E a mesma graça contem
Mesmo assim alegra o triste
Nunca fez mal a ninguém

Quem nunca andou na mourama
E não viu Alfama das cigarreiras
Quem não entrou nas touradas
E nas patuscadas zaragateiras

Quem do povo andou ausente
E nunca o compreendeu
Desconhece o ambiente
Em que este fado viveu

Dizem que o fado existia
Só onde havia a tristeza
Mas cantou-se á luz do dia
Numa alegria bem portuguesa

Pode estar acostumado
A chorar o nosso mal
Mas que culpa tem o fado
Do azar de cada qual

MADALENA DE MELO

FADO ARMANDINHO ( )



FADO ARMANDINHO

Os olhos do meu amor
De travessos e ladinos
Sabem bailar com ardor
São dois grandes bailarinos

São mimos de sedução
São grandes doces profundos
Ai que loucuras me dão
Aqueles olhos tão lindos

Neste mundo em outros mundos
Que os crentes possam supor
Não há olhos mais profundos
Que os olhos do meu amor

LINA MARIA ALVES

FADO DA VIDA (J.Frederico de Brito)



FADO DA VIDA

Já vi que pensar em ti é tempo escusado
Chorar sofrer e calar tem sido o meu fado
Não é por vontade que a gente se prende
A quem por maldade nem nos compreende
Vocês não pensam talvez no mal que nos fazem
E nós ficamos mais sós com a dor que nos trazem

Por mais que me afronte tudo há-de passar
Os rios e as fontes contornam os montes e vão ter ao mar
Não sei do amor que deixei p’ra ai não sei onde
E então o meu coração já nem me responde
Só tenho a certeza d’um fundo desgosto
Alem da tristeza estampada no rosto

Também nem tu nem ninguém do amor me convence
Por ser até um prazer que não me pertence
Julguei-me envolvida num fado trinado
Mas vou convencida que o fado na vida é sempre arrastado

JOSÉ MANUEL OSÓRIO

FADO DA MEIA LARANJA (José Luís Gordo / Joaquim Campos)



FADO DA MEIA LARANJA

Ali á meia laranja
Meio inferno de Lisboa
Onde a morte anda a viver
Há milhares de olhos baços
A vida tem tantos braços
Para a morte se esconder

Por entre gente perdida
Jovens entregam a vida
Á loucura que se esbanja
E nas veias da tristeza
Tantas facas de pobreza
Ali á meia laranja

Há tanto cavalo á solta
Com chicotes de revolta
Num galopar que magoa
E há punhais de infelicidade
Ali se mata a idade
No coração de Lisboa

quarta-feira, 7 de abril de 2010

MARIA ALICE

FADO MENOR ( Fernando Teles / Popular )



FADO MENOR

Por eu vender o meu corpo
Olham p’ra mim com desdém
As ricas também se vendem
E tudo lhes fica bem

Ninguém censure a mulher
Que p’ra dar aos filhos pão
Depois de tudo sofrer
Ponha o seu corpo em leilão

Não há ninguém que suponha
Qual a cruz do meu penar
É ser mãe e ter vergonha
De meus filhitos beijar

JOSÉ MANUEL BARRETO

SENHORA DA NAZARÉ ( João Nobre )



SENHORA DA NAZARÉ

Senhora da Nazaré rogai por mim
Também sou um pescador
Que anda no mar
Ao bom largo da vida aproei
E as vagas sem fim
Está o meu barquinho de sonho
Quase a naufragar
As minhas redes lancei com confiança
Colhi só desilusões no mar ruim
Perdi o leme da esperança
Eu não sei remar assim
Senhora da Nazaré rogai por mim

Ao bom largo da vida aproei
E as vagas sem fim
Está o meu barquinho de sonho
Quase a naufragar
As minhas redes lancei com confiança
Colhi só desilusões no mar ruim
Perdi o leme da esperança
Eu não sei remar assim
Senhora da Nazaré rogai por mim

JOSÉ FREIRE

FADO DAS ISCAS ( )



FADO DAS ISCAS

No tempo das patuscadas
Das guitarras e touradas
Das hortas do carrascão
Eram as iscas o prato
De mais consumo e barato
Na vida dum cidadão
E ninguém se envergonhava
Toda a gente que passava
Entrava nessas vielas
A gente sentia-se bem
Simples simples era um vintém
Trinta reis se eram com elas

Se ao longe vinha um parceiro
E o cheirinho lhes sentia
Até mesmo apetecia
Come-las só com o cheiro
E a sua fama foi tal
E o povo então era vê-lo
Travessa do Cotovelo
E Rua do Arsenal

Hoje tudo isso mudou
A taberninha acabou
Desapareceram os becos
Os cocheiros são chouferes
Vigaristas suteneres
E os casqueiros papo secos

Se os meninos odaliscas
Comessem um prato de iscas
Daquelas bem temperadas
Morriam de ingestão
Não bebendo um garrafão
D’ água das Pedras Salgadas

JOSÉ COELHO

EU GOSTO DAQUELA FEIA ( Albino Paiva / Júlio Proença )



EU GOSTO DAQUELA FEIA

É feia mas gosto dela
Tenho-lhe tanta amizade
Como se fosse a mais bela
Das jovens da sua idade

É feia sim vejo bem
O meu olhar não se ilude
Tem raras prendas porém
Honra nobreza e virtude

Mesmo feia é a meu gosto
Gosto dela e com razão
Não tem beleza no rosto
Mas tem-na no coração

Se os homens almas daninhas
Só quisessem mulheres belas
Ai das feias coitadinhas
Ninguém casava com elas

Meu coração não receia
A calúnia rasteirinha
Eu gosto daquela feia
Feia sim mas é só minha

JOAQUIM PIMENTEL

PORQUE RAZÃO CORAÇÃO ( D.R. )



PORQUE RAZÃO CORAÇÃO

Porque razão coração
Se existem tantas mulheres
Porque razão coração
Somente àquela preferes

Logo essa que é casada
Com o meu melhor amigo
Escuta aqui coração
Eu estou zangado contigo

Diz o nono mandamento
Ser pecado desejar
Mas este amor é um tormento
Com o qual não posso lutar

Coração vê se me ajudas
A fugir á tentação
Quero esquecê-la não posso
Porque razão coração

terça-feira, 6 de abril de 2010

JOAQUIM CORDEIRO

ZÉ CALOTEIRO (Domingos G. Costa / Carlos Dias )


ZÉ CALOTEIRO

Quando eu era rapazote
Já ferrava o meu calote
E entre os meus não era eu só
Pois o meu pai que Deus tem
Já cravava a minha mãe
E minha mãe a minha avó

Ás vezes uma pessoa
Quer ser séria honrada e boa
Mas vem á mente o rifão
Que diz que é honra dever
Então crava por não querer
Desonrar a tradição

Sou caloteiro
Mas apontem-me o primeiro
Que neste mundo embusteiro
Nunca cravasse ninguém
E vou gozando
Enquanto os credores chorando
AI iludidos vão esperando
Pela massa que nunca vem

Fiz um dia um disparate
Cravei o meu alfaiate
E o tipo que era matolas
Com maldade vil e crua
Despiu-me o fato na rua
E fui p’rá esquadra em ceroulas

Sou sério creiam não minto
E o ser crava por instinto
Acho um feitio ordinário
E se não pago a quem devo
É que eu sou como descrevo
Caloteiro hereditário

segunda-feira, 5 de abril de 2010

ILDA SILVA

QUEM DIZ ( Carlos Conde / Pedro Rodrigues )



QUEM DIZ
Quem diz que o fado se aprende
Não conhece não entende
Suas doces melopeias
O fado para ser fado
Deve correr misturado
No sangue das nossas veias

Quem diz que o génio fadista
Só com palmas se conquista
Deve sofrer de ilusão
Fadista não é quem canta
É quem filtra na garganta
O que sente o coração

Quem diz que o fado não é
Uma cadência de fé
De uma toada imortal
Não conhece com certeza
A canção mais portuguesa
Das canções de Portugal

No fado p’ra se vencer
Não basta apenas manter
O amparo de gente amiga
O que é preciso é ter garra
Abraçar uma guitarra
E cantar uma cantiga

sexta-feira, 12 de março de 2010

ANA MOURA

LAVAVA NO RIO LAVAVA ( Amália Rodrigues)



LAVAVA NO RIO LAVAVA

Lavava no rio, lavava
Gelava-me o frio, gelava,
Quando ia ao rio lavar.
Passava fome, passava,
Chorava, também chorava,
Ao ver minha mãe chorar!
Cantava, também, cantava!
Sonhava, também, sonhava!
E, na minha fantasia,
Tais coisas fantasiava,
Que esquecia que chorava,
Que esquecia que sofria!

Já não vou ao rio lavar,
Mas continuo a chorar!
Já não sonho o que sonhava!
Se já não lavo no rio
Por que me gela este frio
Mais do que então gelava?

Ai, minha mãe, minha mãe
Que saudades desse bem,
Do mal que então conhecia
Dessa fome que eu passava,
Do frio que me gelava
E da minha fantasia!

Já não temos fome, mãe!
Mas já não temos também
O desejo de a não ter!
Já não sabemos sonhar,
Já andamos a enganar
O desejo de morrer!

quarta-feira, 10 de março de 2010

GABINO FERREIRA

ALFAMA ( Henrique Perry / Joaquim Campos )



ALFAMA

Alfama antiga dos nobres
Morada do velho Gama
E da primeira nobreza
Hoje és o berço dos pobres
Mas mesmo assim velha Alfama
Mostras que és bem portuguesa

Alfama pela manha
Parece uma cidadela
Onde a ambição não existe
Moira tornada cristã
Tua canção é mais bela
Cantada no fado triste

Alfama Santa Luzia
Velando por ti velhinha
Pelas tuas tradições
Quer de noite ou quer de dia
Estás sempre aos pés da santinha
Em constantes orações

Velha mãe da minha mãe
No teu encanto bairrista
Alfama tu tens amarra
És a minha mãe também
Por isso é que sou fadista
Nasci ao som das guitarras

FRUTUOSO FRANÇA

ELOGIO RURAL ( Frutuoso França )



ELOGIO RURAL

Quando nas verdes ramadas
Canta alegre rouxinol
Brilha o aço das inchadas
Á luz doirada do sol

Sujos negros do suor
Da sua pesada lida
Os braços do cavador
São alavancas da vida

Alavancas pelo bem
Esteios da produção
Revolvendo a terra mãe
A terra que nos dá pão

Pode um cavador ser rude
Ignorante não contesto
Mas tem a grande virtude
De ser toda a vida honesto

Tem calos com muita honra
Trabalha por isso os tem
Ter calos não é desonra
Não fica mal a ninguém

P’ra manter a sua prol
O trabalho é seu patrono
Antes um dia sem sol
Do que uma inchada sem dono

ESMERALDA AMOEDO

FUMAR É MATAR SAUDADES ( Ary dos Santos / Fado Menor )



FUMAR É MATAR SAUDADES

Fumando a gente se encontra
Connosco mesmo outra vez
Ninguém sabe quanto conta
Um cigarro português

Quem nunca foi emigrante
Sofrendo por seu país
Mal sabe quanto é bastante
O que um cigarro nos diz

É no filtro da lembrança
Lume aceso da saudade
Que um homem feito criança
Fuma a própria mocidade

E fumando é que se encontra
Consigo próprio outra vez
Ninguém sabe quanto conta
Um cigarro português

ERMELINDA VITÓRIA

O MEU PROTUGAL( )



MEU PORTUGAL


Meu país é Portugal
De beleza sem rival
Com o céu da cor de anil
Nesse pequeno tesoiro
Cai o sol em chuvas de oiro
Dando á terra graças mil

Na minha aldeia as moçoilas
Com malmequeres e papoilas
E as aloiradas espigas
Fazem ramos delicados
E oferecem aos namorados
Envolvidos em cantigas

Os rapazes graciosos
Com seus versos amorosos
E as modas regionais
Cantas ás moças canções
E roubam-lhes corações
Aos seus lindos madrigais

sexta-feira, 5 de março de 2010

FRUTUOSO FRANÇA

DIA DE PÁSCOA (D.P.)



DIA DE PÁSCOA

Esta história passou-se entre crianças
No rossio ali perto ao monumento
Esvoaçavam alegres pombas mansas
E um velhinho oferecia-lhes alimento

Era dia de pascoa e muita gente
Se juntou pra ver o bom velhinho
Enquanto uma menina meigamente
Dava amêndoas a um pobre rapazinho

O pai que estava ao pé indagar quis
Vendo o gesto da filha humana e boa
E perguntou conheces o petiz
Eu não querido paizinho mas perdoa

Vi-o tão pobre assim com atenção
Vendo as pombas comer coitadinho
Notei que tinha fome e dei-lhe então
Minhas amêndoas todas meu paizinho

O pai diz-lhe só quero abençoar-te
Pela tua nobre acção de humanidade
Bendito seja sempre quem reparte
Pelos pobres a santa caridade

CÉSAR MORGADO

ÁRVORE DE NATAL ( Tito Rocha / Fado Menor )



ÁRVORE DE NATAL

Aquela árvore despida
Pelas mãos do vendaval
É a árvore do natal
Dos que não têm guarida

Dezembro noite medonha
A chuva cai de seguida
Tornando ‘inda mais tristonha
Aquela arvore despida

Nem sequer uma só folha
Resistiu ao temporal
Não houve excepção na escolha
Pelas mãos do vendaval

O trovão rebenta breve
Amedrontando o casal
E triste cheia de neve
É a árvore do natal

Quem não tem casa nem mesa
Quantas vezes diz na vida
Não tem pena a natureza
Dos que não têm guarida

quinta-feira, 4 de março de 2010

CAROS JOSÉ TEIXEIRA

HORIZONTE SEM QUADRAS ( Carlos J. Teixeira / F.Pinto - Fado Meia Noite )


HORIZONTE SEM QUADRAS

O pensamento que avança
Pr’além do próprio além
É um grito de criança
Dado no ventre da mãe

Eu sou o verso esquecido
Que o poeta não escreveu
O eco dum som perdido
Dum grito que ninguém deu

Quem tem muito e não dá nada
Finalmente nada tem
A água do mar salgada
Não mata a sede a ninguém

Eu sou a água da fonte
Que ainda está p’ra nascer
A linha do horizonte
Que vocês não podem ver

BEATRIZ FERREIRA

TRÊS BEIJOS (Joaquim de Campos)



TRÊS BEIJOS

Eu nunca pedi um beijo
Ao primeiro amor que tive
Não me faltava o desejo
Mas o desejo contive

Depois ao segundo amor
Beijei e não fui beijada
Era um amor sem calor
Era fogueira apagada

Terceiro amor que doidinhos
Nos beijos e nos desejos
Nasceram os três filhinhos
Tão lindos como três beijos

ARMINDA DA CONCEIÇÃO

NÃO ME CHAMES TRIGUEIRINHA ( Jaime Santos / João de Freitas



NÃO ME CHAMES TRIGUEIRIHA

Não me chames trigueirinha
Que eu não gosto já te disse
Chama-me antes moreninha
Porque contém mais meiguice

Se tu és o meu senhor
E eu a tua rainha
Em nome do nosso amor
Não me chames trigueirinha

Não penses que é por vaidade
Ou por qualquer birra minha
Portanto faz-me a vontade
Chama-me antes moreninha

Pois sempre á boca pequena
Ao passar sem garridice
Todos me chamam morena
Porque contém mais meiguice

segunda-feira, 1 de março de 2010

NATALINO DUARTE

PORQUE GOSTO DO FADO ( João Black / Francisco Viana )



PORQUE GOSTO DO FADO

Trago o fado a saltitar
No meu peito bem vincado
Eu nasci para cantar
O meu destino é o fado

Canto o fado esse lamento
Porque o fado na verdade
Tem o dom do sofrimento
Tem o sabor da saudade

Gosto do fado esse encanto
Que me traz acorrentado
E por isso quando canto
Fujo de mim p’ra ser fado

Porque se ao fado me ligo
Faz parte do meu viver
O fado nasceu comigo
E comigo há-de morrer

NATALINA BIZARRO

ESTE MEU FADO (J.Mota,Dr. / Jorge Fontes)



ESTE MEU FADO

Este meu fado
Que ninguém recordará
Não é lamento chorado
Duma vida ao deus dará

Este meu fado
É uma flor que nasceu
Das ruínas do passado
Onde o nosso amor nasceu

Este meu fado
É o fado dessas noites em que eu ia
Levada por ânsia louca
A esquecer a tua boca
Na boca do que me querida
Este meu fado
É o fado duma existência vivida
Em dias que são contados
Por um rosário de fados
Que trouxeste á minha vida

A minha dor só existe na lembrança
Dessa batalha em que o amor
Destruiu a própria esperança
A minha dor grito de um sonho roubado
É hoje apenas a flor que nasceu desse meu fado

RAÚL PEREIRA

SAUDOSO FADO ( Clemente Pereira / Miguel Ramos )



SAUDOSO FADO

Quem nunca ouviu na velha Alfama o som plangente
A vibração de uma guitarra pelas vielas
Nunca escutou esse queixume que anda ausente
Aquele fado que embarcou nas caravelas


Guitarra amiga anda comigo
Velha cantiga que é do fado ter abrigo
A nossa voz em todo o lado
Será pra nós o porta-voz do nosso fado

Quem nunca ouviu no Bairro Alto e Madragoa
Vozes fadistas em vibrantes desgarradas
Nunca escutou nas velhas ruas de Lisboa
Todo o encanto das saudosas madrugadas

Guitarra amiga anda comigo
Velha cantiga que é do fado ter abrigo
A nossa voz em todo o lado
Será para nós o porta-voz do nosso fado

Quem não viveu naquele tempo da nobreza
Junto aos plebeus na Mouraria em comunhão
Deve ter pena em não viver toda a grandeza
Daquele fado que nos fala a tradição

Guitarra amiga anda comigo
Velha cantiga que é do fado ter abrigo
A nossa voz em todo o lado
Será pra nós o porta-voz do nosso fado

TRISTÃO DA SILVA

CHINELA ( Maunuel Paião / Eduardo Damas )




CHINELA

Encontrei uma chinela
Perdida na Mouraria
Fiquei com ela na mão
A ver se a dona aparecia

Depois vi uns olhos negros
E um sorriso sem vida
Era a dona da chinela
Que andava também perdida

Ela encontrou a chinela
E eu encontrei-a a ela
Na rua do Capelão
Hoje já não está perdida
Encontrou a própria vida
E eu perdi o coração

Naquela estreita viela
Bem no meio da Mouraria
Uma pequena chinela
Transformou a noite em dia

Oh chinela de verniz
De pequenino tacão
Tu andas toda inteirinha
Dentro do meu coração

Ela encontrou a chinela
E eu encontrei-a a ela
Na rua do Capelão
Hoje já não está perdida
Encontrou a própria vida
E eu perdi o coração